~Visão de Binho ~
Estava em uma reunião de negócios do meu pai, com a minha mãe e outros acionistas. Eles bebiam e conversavam, mas uma coisa estava me incomodando muito mais do que sempre incomodou naquele dia: as piadas. Ultimamente não tenho estado vivendo meus dias mais positivos e isso impacta diretamente na forma como eu vejo as coisas ao meu redor... tendo isso em vista, ver meu pai diminuir a minha mãe com piadas que ele achava de bom tom fazer, estava consumindo meus neurônios.
Eu sabia que se dissesse alguma coisa ele voltaria a ser aquele cara diariamente violento que sempre foi comigo, mas não era como se eu realmente fosse conseguir aguentar. Estava me sentindo sozinho desde que Arthur tinha se afastado e como estava passando todos os dias em casa – sem ter a opção de ir para algum lugar longe do meu pai – esses comportamentos foram me consumindo.
Em resumo, naquela noite quando chegamos em casa eu decidi bater de frente com ele, questionando o motivo de ele não conseguir ser minimamente decente e parar de diminuir sua própria mulher o tempo inteiro. Naquele dia eu acabei cometendo o erro de gritar com o meu pai e segurar seu braço, para que ele não conseguisse me bater e quando ele percebeu que eu já não era mais uma criança, surtou de vez.
Ele pegou um dos artigos de decoração de casa e começou a me bater. Bateu na minha cabeça, braços e pernas, em especial no braço que direito, que tinha sido o que usei para segurar sua mão. Ele chegou, até mesmo, a pegar sua arma e apontar em minha direção, enquanto gritava que eu não o conhecia e que se ele quisesse me dar fim, conseguiria sem que ninguém jamais suspeitasse dele.
Enquanto tudo isso acontecia, a minha mãe tentava pedir para que ele se acalmasse, mas perdeu o foco quando ele mirou nela.
– É isso que você quer? – ele me perguntou, enquanto apontava a arma pra ela. – Eu mando em você e em qualquer pessoa que tente me parar, tenha isso em mente. Qualquer pessoa que entrar no meu caminho vai virar tapete na minha casa. Guarde bem as minhas palavras. – ele repetia, fora de si.
Assim que o ataque daquele dia acabou, eu imaginei que ele ficaria mais calmo com o passar dos dias, mas as agressões ficaram diárias e eu não podia reagir. Antigamente ele se segurava, por causa dos meus treinos e pelo medo disso chamar atenção de toda a escola, mas agora eu tinha que me virar para que ninguém visse meus hematomas.
A cada dia a perseguição dentro de casa e a pressão no campo me deixava ainda pior da cabeça e não ter ninguém pra conversar tornava tudo muito mais cortante e angustiante. Tudo isso resultou no meu surto de não conseguir pisar no campo pra treinar. No dia anterior a isso, meu pai tinha me dado uma surra e quase torceu o meu joelho de tanto que me chutou e pisou no meu corpo, deu tapas no meu rosto, entre outros lugares. Ele me bateu muito com toalha molhada, porque alguns planos tinham dado errado dentro da empresa e agora ele descontava todas as suas frustrações em mim – isso tudo fazia com que eu sentisse dor só de andar e pensar no meu treinador gritando comigo por eu não estar correndo direito me dava frio na espinha só de imaginar.
Arthur me salvou aquele dia. Eu estava tão atordoado que nem sei como conseguiria me reerguer, mas ele fez isso por mim. E por mais que eu tivesse que fingir que estava tudo bem, enquanto andava com ele até sua casa – para não levantar suspeitas para os seguranças contratados pelo meu pai – eu sabia que ele poderia me apoiar...
No entanto, eu não esperava que a família dele fosse me acolher como fez. Depois de conversarmos, enquanto jantávamos, ajudei seus pais com as coisas na cozinha e na hora de subir, vi que Antônio estava no quarto com ele e Arthur, nesse momento, teve coragem de me chamar de namorado pela primeira vez.
Por mais que eu não entendesse a origem daquela coragem e daquela certeza em suas palavras, preferi dar todo o meu apoio ao invés de questioná-lo, já que claramente naquele momento ele estava me escolhendo – e ninguém jamais tinha feito tal ato por mim.
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Hurricane (Romance Gay)
Teen FictionEu sou o Arthur. Tenho 17 anos e moro em São Paulo. Estou no 2° ano do ensino médio e nesse ano passei por uma situação complicada. Meu melhor amigo Antônio descobriu recentemente que seu pai, (cujo não via a não ser em fotos) veio morar aqui. Até...