Amigos?

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Acabou que Antônio foi na frente com as meninas e eu demorei um pouco mais para entrar em sala, estava me sentindo levemente sufocado. Quando consegui sentir coragem para finalmente entrar, vi o garoto novo – junto com outros novatos – entrando na nossa sala e meu coração gelou.

Assim que entrei, todos olharam para mim, me fazendo ficar vermelho em ter atenção retida em minha direção novamente. Infelizmente meu lugar de refúgio atrás do Antônio – que era onde eu sentava quando queria que ele me escondesse – foi ocupado por alguma garota que ele estava trocando conversa. Ele nem se importou com isso, então fui procurar outra cadeira.

Foi aí que tive de sentar atrás do suposto irmão do Antônio – pois o outro lugar em que geralmente sentava, também já tinha sido ocupado por outro novato. Embora de fato eu não soubesse se era ele mesmo quem eu acreditava que era, ficava nervoso só de pensar nessa hipótese. Ele me encarou do momento que entrei até quando eu me sentei atrás dele. Seu perfume entrava nas minhas narinas me deixando ainda mais curioso para conhecê-lo e talvez tirar essa dúvida, mas a vergonha foi superior, então fiquei quieto na minha como sempre. Mesmo que não fosse o irmão do Antônio ele era bonito e eu não conseguia desviar meus pensamentos dele durante toda a aula. Ele, por sua vez, às vezes olhava para trás e fixava o olhar na minha escrita – como se pedisse para fazer amizade, mas se fosse isso ele estava errando feio, porque eu não era o extrovertido que puxa assunto, eu era o introvertido que finge que é um espírito de tão silencioso.

Quando o sinal do intervalo tocou, me levantei rápido para não dar oportunidade dele falar nada e sai de sala, porque o próximo horário era vago. Ele me fitou até que eu sumisse do seu campo de visão. Não dei ouvidos aos chamados do Antônio do outro lado do corredor, eu só queria me sentar e ler. Na sala, logo começaram as especulações e os burburinhos sobre os novatos "gatos". De fato, todos os meninos e meninas que tinham recém chegado no colégio eram bem bonitos, mas não era como se eu fosse me juntar com outras pessoas para debater sobre isso. 

– Sabia que é quase de lei você me dizer "oi" por eu ser o novato? – o novato que estava se sentando na minha frente fala, sentando-se ao meu lado no banco e me despertando do meu transe de leitura com um susto.

– Que susto! – rebato, dando um soco fraco em seu ombro e ele começa a rir, sem entender muito bem como tinha me assustado tanto. – Me desculpa, é que eu tenho um amigo que sempre me assusta e eu acabei ficando com esse reflexo. 

– Não precisa se preocupar, não foi forte, Arthurzinho. – ele responde, olhando constantemente em meus olhos. 

– Por que tá me chamando assim? – pergunto, desviando o olhar dele. O sorriso de satisfação dele ao me deixar envergonhado tomava todo o ar que tinha ao meu redor, não conseguia respirar direito. 

– Por que ouvi seu nome na chamada, mas acho que chamar apenas de Arthur é sério demais. Te deixei desconfortável? Se quiser eu paro.

– Só vaza, eu tô lendo. – rebato, puxando meu livro para perto dos meus olhos, tentando tampar meu campo de visão para não vê-lo ali. 

– Tudo bem, só vou ficar do seu lado sem dizer nada então. – ele comenta, deitando-se na grama e olhando para o céu.

– Não, isso me atrapalha.

– O que? Eu só não quero ficar sozinho, sou como um filhote de cachorro, quero sempre estar perto de alguém. – explica e eu o observo mais uma vez.

– Chamo isso de carência. – rebato. 

– Que isso, Arthurzinho, vejo nos seus olhos que você também é meio solitário. Não seja tão duro comigo, pode ser? – ele me olha e eu mudo meu olhar de direção mais uma vez. – Por que não gosta de me olhar?

HURRICANE - (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora