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CHARLIE — 1943 — DUNKIRK

Dois dias apenas trocando olhares com Alex parecia uma grande tortura agora, não conseguia escrever sem pensar nas suas palavras e hoje eu estava vivendo uma exceção, envés de me torturar com um lápis na mão apenas segurava uma garrafa de bebida barata enquanto olhava para o céu cinzento em uma das ruas frias de Dunkirk enquanto anoitecia.

— General pediu pra te levar de volta pro quarto, não quer correr riscos desnecessários.

A voz rouca de Alex direcionada a mim pela primeira vez nesses dias me fez gelar e depois virar a cabeça pro lado aos poucos pra encara-lo, conseguia sentir sua falta de coragem de olhar nos meus olhos, de qualquer forma a bebida parecia me dar impulso pra dizer algumas coisas travadas na minha garganta desde a nossa última conversa.

— Oh, não se preocupe soldado, pode bater continência pro seu general, depois eu volto — Voltei a olhar pra paisagem

— Eu tenho ordens. — Ele insistiu

Revirei os olhos o ignorando e bebendo mais uma vez, quando escutei seus passos se aproximando de mim não cheguei me surpreender ao sentir sua mão envolvendo meu braço pra levantar meu corpo de uma vez.

— Alex, que merda, tem como me deixar em paz?

— Pra que tudo isso, Charlie? Está querendo me torturar ou algo do tipo?

— Só acho muito engraçado você gritar daquele jeito comigo como se eu tivesse te beijado sozinha

— Vamos voltar pra pensão.

— Quer saber? Vai se foder.

Apressei meus passos pra ganhar distância, mas logo escutei seu suspiro e um "espera" vindo dele, parei no mesmo momento e depois de hesitar acabei me virando pra voltar a olhá-lo.

— Quando eu disse tudo aquilo foi pra te dar uma realidade — Se aproximou — olha só pra você tem um trabalho importante, que merda tem na cabeça pra beijar um soldado?

— Eu...

Quando o notei parado frente a frente comigo acabei perdendo minhas palavras, mas isso não durou muito.

— Eu não sei o que é, Alex... Mas eu simplesmente quis aquilo.

— Você espera de mim um cara que eu não sou.

O frio aumentava podíamos enxergar nossas respirações descompensadas e mesmo assim continuei ali, quando sua mão fria tocou meu rosto me odiei por não ter forças pra empurra-lo, então Alex se aproximou de vez e selou nossos lábios, agarrou minha cintura colando nossos corpos e eu apenas correspondi feito uma idiota, gostando de cada maldita sensação que tinha com seu toque.

Ao afastar minimamente o rosto pra me encarar ele fez um sinal negativo com a cabeça com seu sorriso de lado no rosto.

— Eu não sou o cara certo, não vai querer me ter como seu primeiro e lembrar de mim pro resto da vida.

— Como você sabe?

— Sou um bom observador — Riu baixo e acariciou meu rosto — meu negócio é achar um prazer momentâneo, não... Isso.

— Então por que me beijou?

— Porque eu queria ser assim o seu "anti-herói" que no fundo é perfeito pra você, mas eu estou transando com a cozinheira e tentando não morrer, não tem nada de especial em mim.

— Tem como parar de se diminuir? Isso é ridículo.

— Eu me sinto pequeno quando tenho que aceitar que Janice está desaparecida e Joe mal consegue levantar!

Janice havia sumido e todos sabiam o que isso deveria significar, ela merecia muito mais e eu queria apenas chorar sentindo sua falta da forma mais dolorosa que eu poderia imaginar.

— Você tem razão, somos uns merdas — Ergui a garrafa

— Charlie vai se arrepender de ficar bêbada perto de mim, não vou esquecer disso tão cedo.

— Mas vai esquecer que me beijou, não é?

— É o que eu gostaria, agora tem como a realeza voltar pra pensão?

Me dei por vencida caminhando até a pensão vendo que muitos já haviam se recolhido, subi as escadas junto ao Alex tropeçando e o escutando abafar sua risada, eu gostava de ver que por um momento parecíamos dois idiotas e como se não houvesse uma guerra em nosso cenário.

Acabei entrando no quarto que Alex dividia com Joe que estava na enfermaria improvisada, assim que me joguei em uma das camas, o senti arrancar minhas botas e puxar um cobertor pra mim.

— Parece que está me devendo mais uma, jornalista. — Ele sussurrou

Eu lhe dei um último sorriso antes de cair no sono, ele queria que eu me afastasse, mas as vezes só parecia me deixar mais perto.

Quando acordei no dia seguinte com uma dor de cabeça terrível alcancei minhas botas e ouvi a conversa que o navio iria demorar mais uma semana.

— Parece que vai ter que tentar não morrer por mais um tempo — Paul me advertiu

— Sinto muito por isso. — Brinquei o escutando rir

O novo e pequeno grupo de soldados que havia chegado estavam em uma mesa sozinhos, não gostava da forma que eles agiam ou seus olhares em minha direção.

— Não liga pra eles, só estão desconfiados — Paul me notou estranhar

— E o Joe? — mudei de assunto

— Já está bem melhor — Sorriu animado — por um milagre a ex mulher dele ainda não o matou

Acabei rindo e vendo Alex se juntar a nós dois, tentava evitar o contato visual, mas do que adiantaria? Ele ainda tinha a voz que já era bem difícil de simplesmente suportar.

Quando Paul se afastou para tentar amizade com os novatos, escutei a tosse falsa do meu lado e tive que lhe olhar dessa vez.

— Já pensou na possibilidade de ter um interesse da parte dele?

— E isso acho que é problema meu, não é?

— General pediu pra eu ficar de olho em você.

— Então fique de olho — Sorri provocativa — eu costumo dar muito trabalho.

Ele desviou o olhar arrumando a gola da camisa e eu não segurei o riso, agora entendendo melhor o motivo da sua diversão em me irritar.

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olaaaa gente me formei ontem sou oficialmente desempregada em direção a faculdade haha, mas tô MT feliz então tomem capítulo novo ❤️ all the love

MERCYOnde histórias criam vida. Descubra agora