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  CHARLIE — 1945 — ENGLAND 

— Você tem muito trabalho, Charlie, não deveria se preocupar com esses assuntos.

Não estava surpresa que Alex fugia quando se tratava da sua família, eu sabia que ele ainda se sentia magoado pela culpa que carregou com o incêndio que levou a morte do seu pai, mas os anos passaram, eu estava positiva que as coisas estariam diferentes agora, todas as vezes que falei com Amelie, sua irmã, ela parecia completamente aberta pra uma conversa.

— Então não pense em você — Recostei no balcão — pense na Hope, da minha parte ela não tem um avô ou avó, muito menos uma tia, sou sozinha e daria tudo pra ter alguém aqui — Dei de ombros — mas você tem, pode se esforçar um pouco.

— Você é uma chantagista — Ele parou de cozinhar pra me encarar

Dei de ombros com um sorriso vitorioso e me aproximei o beijando.

— Podemos ir sexta a tarde e passamos a primeira semana das nossas férias por lá —, pousei a cabeça em seu peito — por favor — Sorri

— Tudo bem, mas qualquer mínima coisa eu vou embora sem olhar pra trás, entendeu?

Assenti e selei nossos lábios mais uma vez, logo pegando a Hope da cadeira animada contando que iríamos pra Holmes Chapel, Alex servia a mesa nos olhando de relance com um sorrisinho, talvez eu realmente sinta a carência de uma família mais extensa, só espero não me arrepender.

*

O trem parava na estação e Hope apontava para Amelie, acho incrível como ela ainda a reconhece, logo a loira vinha até nós dando um abraço apertado com um sorriso e nos ajudando com a mala.

— Vocês vão adorar, mamãe fez um ótimo almoço.

— Pelo que eu lembre ela não cozinhava bem — Alex contestou

— Mas ela comprou de um ótimo restaurante — Ela sorriu — não seja ranzinza logo no começo, faz anos que não a vê.

— Quer mesmo começar esse assunto? — Ele ergueu uma sobrancelha

Amelie negou levando deixando as malas no táxi e entramos, não estava acostumada com algo pacato, a última vez que estive em ambientes assim foi em Doncaster e Dunkirk.

Assim que paramos na casa, a mãe de Alex saía animada, tinha um frescor jovem em sua aparência, talvez a única coisa que lhe entregasse a idade são as pequenas rugas que se intensificam quando sorri, os olhos eram exatamente como os dos filhos, apenas conversei com ela por telefone, tinha medo de conhecê-la sem Alex.

— Alex, olha só pra você — O abraçou — quando saiu daqui era tão franzino — Ela riu

— Não vamos falar de passado, okay? — Ele a cortou — estou disposto a mudar as coisas, pela Hope e Charlie.

Ela assentiu passando as mãos pelo vestido parecendo desconfortável, mas logo se virou pra mim com um sorriso beijando meu rosto.

— Sou Margareth e essa deve ser a Hope — Tocou no pequeno nariz da garotinha que riu — podem entrar.

Quando entramos, a mesa estava posta e havia mais pessoas na mesa, uma mulher alta com um vestido confortável e cabelos curtos e pretos, outra garota com cabelos cacheados e um sorriso simpático, ao lado de um homem de meia idade que me encarava por trás de seus óculos, parecendo desconfiado, ouvi Alex bufar e fiquei confusa de imediato.

— Esses são amigos da família, Carrie, Ellen e meu marido Evan.

Os cumprimentei de uma vez, mas assim que vi Alex apertar a mão de Carrie completamente sem jeito, pude sentir que aquela tensão ultrapassava o que eu esperava encontrar e logo notando que isso seria uma longa viajem.

MERCYOnde histórias criam vida. Descubra agora