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CHARLIE — 1943 — DUNKIRK


No meio das minhas anotações​ ainda no quarto, escutei algumas batidas e Alex abria a porta logo se apoiando na mesma. 

— Estão fazendo um jantar com as coisas que chegaram... Não vai descer?

— Já vou — O encarei — justamente você veio me chamar?

— Janice quase me obrigou a vir aqui e eu tenho medo de enfermeiras, podem colocar um remédio estranho na minha comida a qualquer momento.

Não escondi a risada e logo me levantei deixando alguns papéis caírem, Alex se abaixou para pegar o que havia caído perto de seus pés e assim que se ergueu pude ver que ele havia pegado o único que era restrito.

— Alex, não... — Tentei pegar de suas mãos

Ele ergueu o papel ainda lendo e deixando seu sorriso travesso tomar conta dos lábios, a minha altura infelizmente não chegava tão perto dos seus 1.80, então eu apenas lutava em vão.

— Quer dizer que eu sou um anti herói? — Ele soltou uma risada — eu gostei disso — Me encarou com um sorriso

— Eu ainda estou escrevendo — Finalmente tirei o papel de suas mãos — a pior coisa que pode fazer com uma jornalista é ler suas anotações

— Bom saber disso — Ele piscou em minha direção deixando o quarto

Bufei decepcionada e guardei os papéis de uma vez indo até a mesa de jantar sentindo os olhares sobre mim, talvez o último acontecimento tenha deixado todos curiosos, mas eu apenas me sentei pra comer em silêncio.

Quando a pequena confraternização acabou, saí da pequena pensão para tomar um pouco de ar puro, minha paz não durou muito quando pude ver algo no céu tão rápido que praticamente travei, alguns papéis caíam e eu apenas peguei um deles no ar.

"Vocês estão cercados"

Minha respiração se acelerou e assim que olhei para o lado encarei Alex pegando um dos papéis, ele foi imediato, gritou para todos os oficiais, não havia como lutar, apenas ter esperanças que a força aérea pudesse evitar maiores danos, mas assim que escutamos os barulhos e gritaria todos já estavam a postos, a alguns passos da praia podíamos ver soldados aterrissando de paraquedas com a suástica em seus braços.

Um deles foi abatido bem na minha frente, apertei o passo gritando para os moradores se abrigarem, mesmo sabendo que deveria apenas me esconder.

— Que merda você tá fazendo?

Alex me puxava nervoso no meio dos tiros, assim que vi um dos nossos ser abatido, quis parar, mas ainda era arrastada por ele que me puxou até um dos barcos e nos cobriu com a lona. 

— Não pode fazer nada e ainda tenta fazer — Ele sussurrou nervoso

— Alex...

— Se ninguém intervir você sabe o que vai acontecer, não é?

Escutávamos a gritaria e as granadas torcendo mentalmente que todo o barulho lá fora fossem da vitória britânica, só que meus olhos ainda continuavam no verde, enquanto uma de suas mãos ainda agarrava sua arma a outra insistia em segurar minha cintura, eu estava por cima dele naquele pequeno espaço e sabendo que poderíamos morrer a qualquer momento.

Então eu o beijei.

Pude sentir a sua outra mão agarrando minha cintura, queria que nos beijássemos até o medo ser o único a morrer, minha mão parou em seu peitoral e senti o gosto salgado das minhas lágrimas e seus lábios macios se movimentando contra os meus, não sei exatamente o que me levou a fazer isso, mas por algum motivo eu não queria morrer sem sentir essa sensação de ser beijada por Alex.

MERCYOnde histórias criam vida. Descubra agora