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CHARLIE — 1943 — DUNKIRK


Dunkirk ainda estava cercada e o medo era constante, ontem um dos soldados desapareceu e isso deixou todos em alerta para que não andassem muito pela cidade, enquanto eu tentava escrever algo, escutei leves batidas na porta e assim que ergui o olhar pude ver Paul entrar, ele coçava a nuca parecendo desconfortável e vinha de forma cautelosa na minha direção. 

  — Você deve saber que eu fiz aquilo por causa da bebida, não é? 

— É, eu sei — Voltei a encarar minhas folhas — mas você descobriu aquilo e juntou tudo, não estou magoada. 

A realidade é que estava muito magoada por Alex pra dividir isso com Paul, ele sentou-se na cama de frente pra mim e cruzou os braços ainda me olhando. 

— Já consegui entender que tem um lance entre você e o... Alex. 

— Não é bem assim, ele consegue ser um babaca na maioria das vezes.

— Sabe, nossa cabeça está confusa no meio disso tudo — Deu de ombros — não dá pra conhecer nenhum de nós realmente enquanto estivermos nesse inferno.  

  — Alguma notícia do Ryan? — Me referi ao desaparecido 

— Não — Negou — mais um pra lista. 

Lembrei de Janice, já haviam dado como óbito, não tinha mais esperanças de encontrá-la, aos poucos Paul saiu notando que eu não estava no meu melhor dia pra conversar. 

As horas se passaram e pude escutas algumas risadas da janela, assim que coloquei meu corpo pra fora tentando enxergar escutei meu nome ser chamado, ou melhor "jornalista". 

  — Vamos tirar uma foto, desça logo. 

Desci as escadas e quando cheguei a rua a primeira coisa que fiz foi encarar a imagem esperando que a foto fosse tirada, eu realmente espero que futuramente alguém faça as câmeras mais rápidas, até tentamos sorrir nas fotos, mas com a espera simplesmente desistimos. 

Quando todos se aproximavam do fotografo pra saber quando conseguiriam a imagem e como isso funcionava, me virei vendo Alex de frente pra mim, na mesma hora soltei uma respiração pesada pelo susto e continuei o encarando. 

— Pensava que não sairia daquele quarto hoje. 

— É, eu tinha bons motivos pra continuar nele por um bom tempo. 

— Eu sei, pode me odiar o quanto quiser. 

— Sabe o que eu mais odeio em você, Alex? Que nem se esforça pra pedir desculpas. 

Ele não me respondia, continuava em silêncio, mas não tirava os olhos de mim em nenhum momento, assim que escutei o barulho do flash me virei vendo o fotógrafo arrumando o tripé da câmera novamente. 

— Eu estava testando, me desculpe atrapalhar.

— Pelo menos alguém consegue pedir desculpas... 

Passei trombando propositalmente no ombro de Alex e fui parada pelo general que falava sobre como eu estava próxima de ir embora, lhe dei um sorriso e agradeci, realmente eu precisava sair dali, já tinha visto o suficiente.

Decidi ajudar as enfermeiras a arrumar as coisas de Janice que iriam ser doadas pra cidade e outras que iriam de volta pra família, assim que achei alguns envelopes me afastei notando que eram cartas para o filho dela. 

"Finn, tudo aqui tem sido um pouco assustador, sinto sua falta todos os dias, espero que esteja cuidando da sua irmã e não se sinta culpado por eu ter decidido vir, eu quis te poupar, mas principalmente amo fazer isso, estou feliz em salvar as pessoas..." 

Não conseguia mais ler, deixei as lágrimas caírem finalmente, como se fosse um choro que eu guardava a muitos dias dentro de mim, tampei minha boca tentando afogar os soluços e quando ergui o olhar Alex estava na minha frente com um olhar preocupado, estendi a carta pra ele que leu rapidamente e soltou um suspiro derrotado. 

  — Ela quis estar aqui, Charlie. 

Eu sabia, só não conseguia parar de chorar ou falar alguma coisa, então foi a primeira vez que ele me puxou pra perto me abraçando de forma calorosa, afundei meu rosto em seu pescoço ainda fungando tentando parar de chorar e uma de suas mãos subia e descia pelas minhas costas tentando me acalmar. 

— Me desculpa. — ele sussurrou 

Não deveria perdoá-lo, muito menos estar ali naquele momento com ele, mas algo desde que nos conhecemos sempre me empurra cada vez mais pra estar ao seu lado e aqui estou eu de novo. 

Não sei por quanto tempo exatamente continuei ali com ele, mas apenas senti seus braços se afrouxarem envolta de mim quando meu choro finalmente cessou, me afastei dele limpando a última lágrima que caía e o encarei. 

  — Alex... — Escutei o general chamar sua atenção — você vai pras trincheiras na próxima missão.

O notei fechar os olhos com força por um momento e depois voltar a me encarar. 

  — Acho que você logo vai ter o prazer de não me ver mais . 

Eu tinha muito pra falar, mas minhas palavras estavam travadas na garganta. 

— Me perdoa— ele falava baixo como se lutasse contra o próprio orgulho 

— Só posso te perdoar se você tiver um pouco de esperança, Alex. 

Ele finalmente esboçou um pequeno sorriso e assentiu, não tinha como me enganar, não aguentaria o peso de um dia saber que talvez eu nunca mais o veja e tivéssemos acabado desse jeito. 

— Eu realmente não mereço ter te conhecido, Charlie. 

********* 

fala malandrassss, talvez n tenha capítulos até o natal pq vou estar ocupada na minha ceia dançando mt vai malandra(an an), mas vou tentar terminar e postar outro cap amanhã.

O capítulo tá mediano, sorry, é que o próximo tá mais legal, mas precisava desse como introdução e tbm pra dar um adeus a mais uma pessoa R.I.P. janice, enfim, espero que tenham gostado mesmo assim, all the love <3 


MERCYOnde histórias criam vida. Descubra agora