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CHARLIE — 1943 — DUNKIRK

Os que sobraram apenas conseguiam rezar ou tentar seguir a vida calmamente, eu lia um livro que encontrei no quarto em silêncio com a arma ao meu lado.

Quando escutei uma gritaria, me levantei rapidamente e fui até o corredor vendo todos se escondendo.

— O que aconteceu? — Perguntei a uma das enfermeiras

— Tem mais deles chegando pelo mar, não são muitos, mas oficiais que tem aqui são poucos... Se esconda!

Os tiros haviam começado e eu corri até o quarto pegando a arma e me escondendo no guarda roupa, tentei segurar minha respiração o máximo que pude, até escutar a porta ser arrombada e os gritos ainda presentes, fechei meus olhos com força e assim que a porta foi aberta mirei a arma, então ao abrir os olhos soltei um suspiro aliviado.

— Alex...

— Chegamos a tempo pra sua sorte — Tirou a arma da minha mão.

— S-Sua perna, o que aconteceu?

O ferimento não era muito extenso, mesmo assim ainda sangrava.

— Uma granada... Vamos sai logo.

Me levantei com cuidado e vi Alex sentar-se na cadeira soltando um suspiro baixo.

— Onde estão as enfermeiras?

— Cuidando dos outros.

Fui até a bolsa de Lilian tirando o necessário e me abaixei levantando sua calça com cuidado.

— Vai me fazer perder a perna desse jeito — Resmungou

— É só um machucado, Alex — Revirei os olhos

Enquanto cuidava dele podia escutar os passos incessantes no corredor, estavam todos nervosos, mas provavelmente aliviados.

— Estava muito tenso? — O encarei enquanto fazia o curativo

— Sim, mas os nazistas estão perdendo forças nos arredores... Acho que não vão conseguir dominar essa cidade.

— Sabe quando vem outro navio pra vocês seguirem viajem?

— Houve uma mudança de planos, vamos ficar aqui e impedir que esses merdas avancem.

Assenti voltando a dar atenção ao ferimento, quando terminei apenas procurei meu caderno pra fazer algumas anotações.

"Mudança de planos" 

"impedir que a praga se espalhe"

— Vou ter que te ensinar a atirar, o que acha que conseguiria com os olhos fechados?

— Eu te falei que não sabia — Dei de ombros — não é o tipo de coisa que minha mãe me ensinou.

— E o seu pai? — Ergueu uma sobrancelha

— Ele é escritor estava em Paris quando Hitler dominou... Não tivemos mais notícias, nunca foi o tipo de cara que gostava de armas

Um silêncio ficou entre nós, quando voltei a encara-lo seus olhos já estavam em mim.

— Talvez ele só tenha ficado preso... — Sugeriu

— Parece que é sua vez de tentar ser positivo — Sorri sem vontade

No dia seguinte enquanto todos ainda se recuperavam a mesa de café estava vazia, ninguém queria acordar cedo, exceto por mim e assim que olhei para entrada Alex também.

— Ainda está comendo? Temos aulas hoje, senhorita.

— Não achei que aquilo fosse sério.

— Pareço um homem de piadas?

— Você quer que eu responda sinceramente?

Depois de revirar os olhos, me puxou até os fundos da pensão e apontou para as latas no chão, com sua arma apenas apontou e atirou facilmente acertando.

— Viu? Olhos bem abertos.

— Você não vai esquecer isso tão cedo, né?

Ele apenas sorriu já me dando a resposta e eu mirei, mas não acertei, porém quase caí e minha cintura foi agarrada por Alex e eu me virei esperançosa, mas ele apenas fazia uma careta em reprovação.

— Não foi tão ruim assim.

— É com certeza você mataria um nazista de rir.

Lhe dei uma cotovelada e voltei a mirar, fixei minhas pernas no chão e mirei novamente, não cheguei a acertar mas...

— Pelo menos você não caiu — Debochou

— Por que esta me ensinando a atirar?

Não obtive resposta, ele apenas sentou no banco improvisado comendo uma maçã e apontou para as latas.

— Não vamos sair daqui enquanto você não acertar.

Bufei impaciente e novamente mirei.

— Droga — Reclamei assim que errei

— Segure com firmeza e feche um dos olhos pra mirar, vamos lá, estou na torcida — Escutei sua ironia nítida atrás de mim

Novamente apontei e fiz como ele disse e finalmente acertei, larguei a arma comemorando e me virei batendo palmas pra mim mesma, escutei a risada de Alex que se levantou indo até a lata.

— Nada mal... Acho que já podemos te colocar na linha de frente.

— Eu realmente dispenso a experiência.

Roubei a maçã de sua mão dando uma mordida e peguei a arma mirando novamente tentando repetir o que havia feito, acertei uma garrafa e encarei Alex sorrindo convencida.

— Acho que já estou me arrependendo.

— Como você é chato, sou uma boa aluna, deveria ficar feliz

— Eu estou pulando de alegria, não está vendo?

Acabei rindo e voltamos pra dentro da pensão sentindo o frio aumentar, não tenho ideia do porque ele fez tanta questão de me ensinar a atirar, meu lado mais iludido pensa que ele não quer me ver morta, mas significaria que Alex tem um coração e isso é meio difícil de acreditar.

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novo capítulo aaaa amei os comentários e votos tô mt animada escrevendo

MERCYOnde histórias criam vida. Descubra agora