Capítulo 1

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   Era a primeira vez que Pierre estava ali na mansão Hudson, sua mãe era a babá de Kaleb filho único do casal. O garotinho tinha a mesma idade que Kaleb, mas ambos nunca haviam se encontrado, viviam em mundos diferentes, Kaleb era menino rico, menino bem-criado, tinha tudo o que sempre queria na hora em que queria. Pierre ao contrário, o que tinha era sempre doado, pois a mãe trabalhava, mas só tinha dinheiro para pagar as dívidas de jogo que o pai adquiriu antes de morrer assassinado a sua frente. Havia acompanhado a mãe a mansão Hudson aquele dia pois depois iriam passar em uma assistência de ajuda comunitária onde doava-se cestas básicas, e Pierre teria o encargo de carregar a cesta até em casa já que sua mãe não aguentaria, embora fosse apenas uma criança de oito anos.
Sua mãe levou o menino para a cozinha, e ocupou-se de fazer o seu serviço, mas antes de ocupar-se recomendou:

 
 _ Não saia daí ouviu menino, não quero que ninguém te veja, se a dona Marisa te ver por aqui eu estarei encrencada. 

 Dona Regina era pobre sim, mas sabia como educar uma criança, e Pierre estava disposto a obedecê-la, não seria maluco de não seguir as regras que ela estabelecia, afinal depois de algumas surras ou você aprende ou continua apanhando, e de burro Pierre não tinha nada escolheu obedecer. Ele comia uma maça e quase engasgou quando ouviu a voz a lhe perguntar:

  _ Quem é você? – Perguntou uma voz infantil fazendo Pierre olhar o garotinho que o olhava admirado. 

_Sou Pierre – Pierre respondeu rapidamente, o menino estava o olhando tão fixamente que deixava Pierre deveras incomodado e quando já estava para abrir a boca para perguntar algo em relação a isso, foi surpreendido mais uma vez com a pergunta do menino:

_ Você não quer brincar comigo? Eu nunca recebo nenhum amigo aqui, minha mãe não deixa ninguém vir brincar aqui. 

Ele dizia abaixando o tom de voz, o tom de sua voz era quase inaudível que Pierre teve dificuldade de articular o que ele estava querendo dizer. Antes que conseguisse negar o convite, o menino segurava firme a mão de Pierre o arrastando para dentro da casa.  Quando chegaram ao seu quarto o menino  arregalou  os olhos com tantos brinquedos que ele tinha, com o tamanho do quarto que era três vezes maior que a casa de Pierre. 

Desesperada ficou foi a dona Regina quando me viu ali, no quarto de Kaleb, ela me olhava entre assustada e irritada:

_ Kaleb quem é esse menino, e o que ele faz aqui? _ indagou dona Marisa com uma expressão horrorizada _  Quem foi que permitiu esse negrinho entrar na minha casa?

_ Ele é meu filho dona Marisa e peço desculpas por ter causado esse transtorno todo, prometo que nunca mais acontecerá _ Dona Regina lançou um olhar na direção de Pierre que dizia melhor do que se ela tivesse esbravejado ali na frente de todos, mas aquele olhar não precisava de palavra, por que ele dizia tudo sem ela precisasse abrir a boca para emitir palavra alguma. 

 _ Olhe Regina eu contratei os seus serviços e vejo que se esforça bem pra terminar no horário, embora só essa semana se atrasou duas vezes e eu fechei os olhos para esse acontecimento porque o Gerard chamou isso de deslizes, Até me fez ser caridosa dizendo-me que você mora do outro lado da cidade, agora trazer o seu filho para a minha casa onde ele pode roubar qualquer objeto é pedir demais você não acha?

  _ Eu não sou ladrão senhora. – Disse logo o menino a olhando, quem ela pensava que era para  chama-lo de ladrão? 

 _ Quem me garante?  _ Olha só a sua cor.

  Nesse momento dona Regina se aproximou de Pierre o esbofeteando, depois virou-se para dona Marisa erguendo o queixo orgulhosa, ela segurava o choro a dizer: 

  _ Vai me perdoar dona Marisa, mas o dia em que um dos meus filhos for ladrão eu mesmo arrancarei a mão dele fora, portanto não admito que se refira  isso com algum deles nesse termos, eu o esbofeteei não por ele ter pego algo que eu tenho certeza que não fez, mas por ter dado a oportunidade de pessoas arrogantes como a senhora falar assim com ele. Agora eu irei ir embora com o meu filho, porque onde meu filho não é bem recebido, esse lugar também não me servirá. 

Dona Regina  saiu o puxando para fora daquela casa, aquela mulher se tornava uma leoa quando se tratava de proteger um dos seus filhos, por isso Pierre sabia que ela estava muito irritada com o que havia acontecido.  Já fora da casa, dona Regina soltava a mão de Pierre insistindo para que ele apressasse os passos, queria sair de lá o quanto antes. Não foram buscar a cesta, foram direto para casa e lá dona Regina deu uma das piores surras que uma mãe podia dar a um filho. – Ela fazia questão me lembra-lo porque estava apanhando: 


  _ Se não tivesse me desobedecido e permanecido naquela cozinha, não teria sido chamado de ladrão, não teria me feito passar tanta vergonha.  Se tem uma coisa que eu jamais irei aceitar é que um filho meu, filho do meu ventre seja ladrão, essa é a pior ofensa que alguém pode me fazer. 

Por mais que Pierre pedisse... por mais que implorasse para que ela não o  batesse, ele achava injusto apanhar se não tinha feito nada de errado, aquela mulher sim, ela que havia feito uma acusação sem fundamento algum, só pelo fato dele ser negro, mas ele um dia iria fazer ela pagar por essa surra que sua mãe lhe dava, ele  faria ela pagar com juros todas as palavras que sua mãe dizia, ele  jurou que faria ela pagar por tudo. 

Como moravam  apenas em um cômodo, separando os quartos apenas com uma cortina, o menino ouviu  sua  mãe chorando a noite inteira, mas ele mesmo não chorou, engoliu a seco cada palavra, cada cintada e alimentava a sede de vingança, ele iria fazer aquela mulher pagar por cada choro não derramado. 

Mascarado (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora