Capítulo 22
Os dias que vieram a seguir eram gélidos e estranhos. Todos pareciam preocupados e curiosos sobre o que havia de fato acontecido comigo, e toda vez que era interrogada a respeito, me desmoronava em lágrimas sem dar maiores explicações. Os pais do Ícaro fizeram um longo interrogatório sobre tudo o que aconteceu naquela noite, e eu repeti a mesma história: alguém estava em meu apartamento, tapou a minha boca, e eu acordei no hospital com o Ícaro cuidando de mim.Eles tentaram de tudo. Denunciar para a polícia? Visitar uma amiga que conseguia fazer regressão? Iniciar a terapia? Eu sabia que eles se preocupavam. Minhas lágrimas eram reais e toda agonia que eu sentia ao falar sobre aquilo era real. Eu estava terrivelmente decepcionada... Amordaçada. Meu relacionamento parecia estar em uma corda bamba. Eu sequer conseguia olhar direito para Ícaro sem sentir aquela culpa maldita me comer viva. Ele, por outro lado... Era paciente. E sua paciência me matava um pouco a cada segundo.O Abel continuava a dar ordens, solicitando dados e informações sigilosas da empresa e, vez ou outra, fazia alguma ameaça, me lembrando que, se meus pecados fossem revelados, eu não só perderia meu namorado como acabaria presa e sem apoio de ninguém.Eu estava sentada no escritório, observando a pilha de documentos espalhados sobre a mesa e tentando em vão fazer um bom trabalho... Às vezes, eu ficava completamente reclusa, aproveitando do benefício de ser quem eu era para quem eu era.A janela do escritório dava para um jardim negligenciado, onde as folhas secas e os galhos retorcidos formavam um cenário desolador que refletia perfeitamente o caos em minha mente. O frio entrava pelas frestas, e eu me abraçava, tentando encontrar algum calor dentro de mim, mas parecia que meu coração havia se transformado em um bloco de gelo desde aquela noite fatídica.Cada telefonema de Abel era um golpe em minha resistência, uma lembrança constante de que eu estava aprisionada em uma teia que eu mesma ajudara a tecer. O som de sua voz fria e calculista reverberava em minha mente, ecoando ameaças e promessas de destruição.Ícaro, por outro lado, era o farol de calma em meio à tempestade. Sua presença deveria me confortar, mas sua paciência infinita e seus olhos cheios de amor incondicional só faziam minha culpa se aprofundar. Eu sentia que não merecia sua bondade, e cada gesto gentil era uma faca que cravava mais fundo em minha consciência atormentada.Eu sabia que não poderia continuar assim, dividida entre o terror e a culpa, entre o passado sombrio e o futuro incerto. Mas, a cada dia que passava, as opções pareciam se esgotar, e eu me via afundando mais e mais no abismo de meus próprios erros e segredos. O inverno lá fora parecia um reflexo da minha alma: gelado, árido e sem esperança. E eu, perdida em meio ao turbilhão de emoções e responsabilidades, não sabia se seria capaz de encontrar o caminho de volta à luz.
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Doce Armadilha
Romance### Sinopse "Não se apaixone por mim. Eu não sou alguém para você. Quero apenas ter minhas noites de prazer e cumprir o meu propósito impiedoso de lhe ver sofrer." Lua cresceu com um único desejo: vingar-se da poderosa família que lhe causou grandes...