A destruição do mundo

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Ao abrir os olhos, Lydia foi minha primeira visão. Ela estava curvada sobre mim, as sobrancelhas franzidas, o rosto próximo do meu. Fiquei parado, a encarando, tentando lembrar o que tinha acontecido.

Abri a boca, pois queria perguntar qualquer coisa que me fizesse entender. Foi difícil separar os lábios, eles pareciam colados um no outro, secos demais.

Forcei a voz, mas nenhuma palavra saiu. Soltei um ruído estranho, sem sentido e minha garganta doeu. Doeu muito. Voltei a fechar os lábios e continuei encarando o Céu.

— Não tenta falar, Stiles. Você precisa descansar. — Foi o que ela disse com a voz bonita. Voz linda. — Vai ficar tudo bem, confie em mim.

Tentei me mexer e uma dor absurda açoitou meu corpo. Arfei e senti lágrimas surgindo nos olhos, querendo despencar. Virei a cabeça para os lados, aflito. Porém, as mãos do Paraíso tocaram em meu rosto.

O toque pareceu aliviar em parte a dor que eu sentia no corpo. Todo corpo. Cada parte. Fechei os olhos desejando que os dedos pequenos nunca saíssem das minhas bochechas.

Queria que ela me tocasse para sempre. Precisava disso. Do seu toque. De seus olhos sobre mim.

— Fica parado, Stiles! Você precisa ficar quieto, tudo bem? — Ela falou baixo, bem baixinho.

Mais uma vez, abri os olhos e a boca. Gostava de agradar o Céu, fazer o que ela pedia. Mas eu precisava falar. Precisava perguntar.

— Céu... — Minha voz quase não saiu. Foi um sussurro engasgado, rouco. Minha voz não era bonita como a do Paraíso.

— Shhh, eu estou aqui. Estou com você.

Não entendi o porquê ela disse aquilo, porém, me senti melhor. Só quando os dedos pequeninos e lindos se moveram sobre meu rosto que eu finalmente percebi que eu já chorava.

— O-onde? — Queria falar, perguntar mais. No entanto, não consegui. Só uma palavra falha despencou de minha boca.

Mas ela me entendeu. Lydia me entendia e eu amava isso. Eu a amava.

— Eu não sei onde a gente está, mas Alex não está aqui — Franzi o rosto. Fiquei ainda mais confuso. — A gente saiu do seu mundo, Stiles. Agora nós estamos no meu mundo.

Na última frase, a voz do Céu mudou. Ela parecia...culpada. Arregalei os olhos e daquela vez, tive consciência das lágrimas que despencaram. A nova dor veio de dentro, do meu peito.

Meu coração acelerou tanto que achei que fosse sufocar. Escutava as batidas martelando nos ouvidos, pressionando minha cabeça. A visão embaçou. Senti um calor repentino.

— Calma, Stiles. Shhh, fica calmo, por favor!

— V-você prometeu... — Lamentei em voz baixa, sem acreditar naquilo.

Lydia mentiu.

Mentiu para mim.

Só Alex mentia. Ela veio do Paraiso. Como podia mentir?

— Você mentiu! — Tudo que eu sentia deu forças para minha voz.

— Stiles, eu prometi que não ia abandonar você e eu não abandonei. Não menti para você!

Ela chorava e eu sabia que era por minha causa. Odiava ver o céu chorar. Odiava. Mas naquele momento, não consegui a consolar. Não consegui fazê-la sorrir.

Assustado e ainda mais confuso do que antes, ignorei o que o Paraíso tinha falado para eu fazer. Movi os braços doloridos. Muito doloridos e ergui o tronco. A dor causou uma vertigem insuportável, mas consegui sentar.

O Pequeno pedaço do céuOnde histórias criam vida. Descubra agora