— Mas que inferno. Desmaiei de novo — as palavras saem carregadas de irritação.
Por que meu corpo continua formigando? Que droga está acontecendo comigo? Porque fico desmaiando desse jeito? O que significa essa maldita porta? Que tipo de pessoa faria uma coisa dessas?
Enquanto reflito sobre os acontecimentos recentes, tento me levantar e acabo percebendo algo óbvio e me espanto por não ter notado isso de cara. Não sei o que está acontecendo com a minha cabeça. Deve ter sido o medo, é, foi isso, me deixou cego e burro. Chicoteio-me com pensamentos pejorativos, talvez para afastar um pouco o pânico da recente descoberta.
Levanto com dificuldade e caminho em direção à porta, tentando ignorar todo o mal-estar físico e psíquico. Percebo, enquanto toco a corrente, que minhas mãos já não tremem mais, e isso proporciona algum conforto, mas não muito. A situação é muito mais grave do que eu imaginei. Volto à atenção para o grilhão e o imenso cadeado negro que o trava.
— Essa porta foi trancada por dentro — digo, assustado. — Não existe maneira de tecer essa teia de correntes pelo lado de fora. Muito menos passar esse cadeado. — O som sai mais alto do que gostaria e, em um movimento automático, levanto as mãos e tampo a boca.
Sinto o estômago encolher, e os pulmões congelarem. O que até então era uma situação estranha e muito confusa acaba de se transformar em uma condição extremamente diferente e perigosa, não um perigo subjetivo que paira no ar e deixa meu corpo em alerta, um perigo físico e muito real.
— Eu não estou sozinho — concluo. — Alguém me trancou nesse maldito lugar, e esse alguém ainda está aqui.
Viro os olhos em direção à cozinha e fico de costa para a porta. Onde está? Onde poderia estar? O apartamento tem cômodos estranhos e espaçosos, mas não é grande, não há ali muitos lugares para se esconder, exceto aquela parte fechada por uma porta que julguei ser um banheiro. Poderia ser qualquer coisa na verdade, o arquiteto desse prédio era, no mínimo, muito excêntrico.
Não importa se é ou não um banheiro, quem me trancou aqui deve estar escondido lá. A questão agora é o que fazer? Talvez chutar a porta, sacudir as correntes e gritar por ajuda, isso chamaria a atenção. A ideia até que não seria ruim, se acreditasse mesmo que há alguém além do meu sequestrador nesse maldito prédio. O lugar parece desabitado há anos.
Olho novamente para a porta e encontro o que procuro meio escondido atrás de um pedaço da corrente, um olho mágico. Aproximo-me, pisando com suavidade, tentando não fazer barulho, e espio pelo buraco.
A visão é desoladora, um corredor vazio e, ao que tudo indica, inacabado. As paredes parecem estar no cimento, e o chão provavelmente não tem piso, tudo dá a impressão de que o prédio nunca foi terminado. É claro que não dá para ter certeza, o maldito nevoeiro cobre todo o corredor e deixa tudo ainda mais cinza. A única cor além do cinza é o vermelho. Exatamente em frente à porta, uma marca de mão está impressa na parede, provavelmente, a mesma mão que escreveu a mensagem na porta, é a mesma tinta, isto é, se é que é tinta mesmo. Prefiro acreditar que é tinta, não posso deixar o maldito me aterrorizar ainda mais.
Chutar a porta e gritar por ajuda estão fora de questão, só atrairia a atenção do meu captor e me deixaria encurralado aqui. Também não adianta tentar abrir o cadeado com as minhas chaves, funcionou no quarto porque a fechadura era parecida. Agora este monstro de ferro aqui exige uma chave de pelo menos doze centímetros.
Pelo menos, as mãos pararam de tremer, isso é muito bom porque vou precisar delas firmes para enfrentar e lutar contra quem é que tenha me trazido até aqui. A decisão não é nada animadora. Não consigo me lembrar de uma única vez que tivesse entrado em uma briga saído vitorioso. Bom, não consigo me lembrar porque isso nunca aconteceu, sempre terminava do mesmo jeito, sangrando e com o joelho ralado.
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Noah
Mystery / ThrillerAcredite isso está acontecendo. Acordo confuso e desorientado em um quarto estranho e até hostil. Esta não é a minha casa, na verdade, nem parece uma casa, o lugar está imundo, a mobília podre, e tudo cheira como água de poço. Não me lembro de como...