Clara tinha tanta raiva, que só percebeu que estava machucando as mãos quando viu o sangue na parede do chuveiro. A morena respirou fundo, e deixou a água fria lavar os machucados. Não eram eles que estavam doendo. A sensação da perda, o desespero de se sentir inútil, de ter falhado e da traição da fotógrafa, era o que realmente doía. Sim, ela considerava a atitude de Marina uma traição. Traiu sua confiança, traiu suas palavras.
Uma parte dela tentava justificar a atitude da namorada como uma parte da sua personalidade, Marina era impulsiva, e ela tinha feito aquilo na impulsividade. A outra parte, a parte racional, gritava que a fotógrafa não era mais criança, e foi egoísta e irresponsável. Clara ficou um bom tempo embaixo do chuveiro, com sua razão e emoção duelando. Desligou a água fria, secou-se, colocou o pijama, cuidou dos pequenos machucados que fez na mão, e voltou para o quarto.
E lá estava ela, virada de costas para a porta, com a roupa da noite, encolhida em sua cama. Clara fechou a porta e ouviu um soluçar baixo do choro. Fechou os olhos e sentiu todo seu corpo reagir em favor de Marina. A emoção ganhou a batalha. Marina agiu errado sim, foi mimada, egoísta e irresponsável. Mas era a sua mimada, egoísta e irresponsável, e nada mudaria isso.
Sem dizer nada, Clara aproximou-se da cama. Tirou os sapatos da fotógrafa, abriu o zíper da calça e removeu a peça. Marina não fez muito esforço. Estava tão perdida dentro de si, tão magoada, que apenas sentiu seu corpo sendo movido e o frio alcançando sua pele. Clara dobrou as roupas da namorada, e depois deitou atrás dela, abraçando o corpo gelado de Marina contra o seu e cobriu as duas com a colcha que tinha ali.
A morena enterrou o rosto no cabelo da fotógrafa, e ouviu mais um pouco o choro da namorada. Marina sentiu Clara atrás de si, sentiu o abraço, e talvez essa foi a maior surpresa da noite. Clara não havia deixado ela. Não tinha desistido. Deixou-se sentir o calor da morena, e entregou-se ao choro que acabou levando ela ao sono.
Marina acordou com os braços de Clara envolta de seu corpo. Lentamente a fotógrafa ficou de frente para a morena, que dormia tranquilamente. O rosto sereno que Clara agora tinha, não lembrava em nada, toda a raiva e fúria que ela tinha horas antes. Marina passou a mão no rosto da morena e deu um beijo em seus lábios. Clara remexeu-se na cama, e apertou o corpo de Marina contra o seu. Com dificuldade, Marina conseguiu ver as horas, e mais um pouco de força foi necessário para conseguir sair dali.
Vestiu uma camiseta e um short de Clara, e saiu do quarto. Na cozinha, a movimentação já podia ser ouvida. Marina chegou e sorriu para os empregados. Pediu ajuda de Inês, para fazer o café de Clara. Pegou a bandeja que tinha arrumado, e voltou para o quarto. Entrou e fechou a porta com o pé, fazendo um barulho maior que queria. Clara virou no colchão, mas não acordou. Marina deixou a bandeja nos pés da cama, e deitou ao lado de Clara novamente.
Dessa vez a fotógrafa passou a dar beijos pelo pescoço e rosto da morena. Marina mordiscava levemente o lábio de Clara, quando a morena gemeu abrindo os olhos. As duas ficaram olhando uma pra outra em silêncio.
–Oi. – Marina sussurrou depois de um tempo. Clara levou a mão no rosto da fotógrafa, e ela o encostou contra sua mão.
–Desculpa. – Clara disse já sentando na cama. – Não devia ter falado daquele jeito com você.
–Você não estava errada. Eu não pensei em mais ninguém, além de mim. – Marina respondeu olhando para baixo.
–Isso não justifica o jeito que falei com você. – Clara respondeu com a voz embargada. Segurou o rosto de Marina, e encostou sua testa na da fotógrafa. – Quando eu não te vi no quarto, quando eu soube que você tinha saído, eu só conseguia pensar que tinha falhado, que tinha perdido você, eu fiquei sem chão.
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Quase Sem Querer
FanficMarina é a herdeira rebelde de um império financeiro que saiu de casa e não voltou mais. Clara é a caçadora de recompensas que tem a missão de trazê-la de volta. Acabam tendo que enfrentar juntas as surpresas que a vida reservou para elas, inclusive...