4. Troca-Troca.

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THE ROSE IN BLACK & WHITE.

3

Vancouver, Canadá.

Sexta feira.

- Aí, só pra completar, ele me disse que eu não era como as outras garotas que ele já tinha ficado, eu quis morrer - paramos ao lado de seu armário. 

- Eu me mataria. - respondi, Dinah passou as mãos pelos cabelos loiros enquanto dava um longo suspiro.

- Ally, eu gosto muito do seu irmão. Muito mesmo. Mas desse jeito não dá.

- Por incrível que pareça, ele acha que se usar essas cantadas ele vai deixar qualquer uma louca por ele.

- O que eu fiz pra merecer isso? - fechou a porta de seu armário e eu ri. - Não é engraçado.

- Estou rindo com respeito, Dinah. - me justifiquei. - É por esse e outros motivos que é maravilhoso estar solteira.

- Queria ser good vibes igual você. Quero dizer, você foi traída e tá de boa. Não sei o que faria se algum garoto me traísse. 

- Você deitaria na cama e dormiria. No outro dia, seguiria normal com a sua vida, ela não acabaria por causa disso.

- Acho que não, eu seria muito mais dramática - eu ri.

Vi Cameron se aproximar. 

- Olha quem voltou - Dinah deu um soco de leve em seu ombro. 

- Porque tá todo mundo olhando pra mim? - ele sussurrou. 

- Deve ser porque você não vem pra aula há duas semanas. - respondi, começamos a andar em direção à sala de biologia. 

Percebi que ele estava extremamente incomodado isso. Cameron é popular, sim, mas não por escolha. Ele sempre foi na dele, nunca implorou por atenção como (quase) todos os garotos dessa escola imploram. Algumas pessoas cochichavam enquanto olhavam pra ele, e isso me irrita muito. Quanto mais andávamos, mais sentia que Cameron estava prestes a ter uma crise de pânico. Sua respiração estava descompassada, ele encolhia cada vez mais os ombros e abraçava os próprios braços enquanto encarava o chão.

Estiquei meu braço e peguei em sua mão. Já passei pelo Corredor do Julgamento e sei o quanto é difícil.

Pelo Cameron, eu encaro isso de novo. 

[...]

- Eu não aceito esse final. - ouvi uma voz familiar enquanto colocava os livros no armário.

- Oi, Mendes.

Vi que o livro Quem é Você, Alasca? que havia emprestado para ele estava em suas mãos.

- Porque me mandou ler um livro com um final tão subjetivo assim? - pelo seu tom, ele estava realmente bem indignado.

- Porque me recomendou músicas tão maravilhosas assim? - rebati.

Faz um tempo que Shawn e eu estamos no "Troca-Troca": Eu empresto algum livro e, em troca, ele baixa algumas músicas no pendrive (o que eu acho um absurdo, afinal, vivemos em uma geração com Youtube e Spotify, mas ele insiste e eu acho super fofo). No final da semana, saímos para conversar sobre o livro e as músicas e, sem querer, até intercalamos os dois.

- Friends, Photograph, Give me Love... - neguei com a cabeça, ele sorriu bobo. - Só um pouco fã de Ed Sheeran.

- Ele é o cara. - fechei meu armário e começamos a andar em direção à sala de inglês.

- Pra onde vamos hoje? - perguntei.

- Quer ir lá pra casa? Só que vai ter uma pestinha pra nos irritar.

- Sua irmã? - Shawn concordou com a cabeça e eu ri. - Não tem problema, vou adorar conhecê-la.

- Ela vai gostar de você.

Entramos na sala e Antonio estava sentado corrigindo provas. Ele nos olhou e sorriu breve. Achei que ele tivesse esquecido o episódio dos curingas e que os meus textos.

Mas, não.

- Oi, gente. - ele se levantou com os papéis em sua mão.

Não eram provas.

- Bom dia, professor. - Shawn respondeu, eu apenas assenti.

- Ally, aqui estão seus textos. Eles estão ótimos, só fiz umas anotações aí do lado, mas foram erros imperceptíveis.

Shawn me encarou por um segundo e eu senti minhas bochechas rosarem. Nunca mencionei em nossas conversas que eu escrevo textos, penso em escrever um livro e que até me considero escritora às vezes. Deduzo que ele possa achar besteira ou algo momentâneo.

Mas, eu sei que não é.

E, a segunda pessoa a saber isso, foi meu professor de inglês.

Peguei os papeis e dobrei-os.

- Obrigada, Antonio. - sorri.

- Quando quiser, me traga mais textos, ou me mande pelo e-mail. Ficarei feliz em ler e te ajudar. A sua escrita é contemporânea, você consegue mascarar a sua dor perfeitamente e consegue tocar várias pessoas com um único texto, estou impressionado.

Depois dessa quem ficou impressionada fui eu.

Sentamos nos nossos lugares, Shawn mantinha seu olhar preso em mim.

- Tô ficando desconfortável - quebrei o silêncio.

- Nunca me contou que escrevia textos.

- E eu tinha que contar? - o encarei de volta.

- Eu te contei sobre minhas músicas, achei que eu merecia saber sobre esse seu lance com a escrita. - deu de ombros.

Eu sou um monstro.

- Desculpa, eu só tava com medo de que você achasse isso uma besteira ou uma fase, todos acham. - coloquei a mão em seu braço. 

Shawn olhou para mim e sorriu, em seguida, sussurrou:

- Eu sei que não é.

[...]

- Ele tá na sua. - Dinah fez uma dancinha tão estranha que fiquei com vergonha por ela.

- Porque tudo que eu faço com ele você diz que ele tá na minha? - cruzei os braços.

- Vocês dois não interagem muito, mas quando interagem é tiro pra todos os lados! Depois disso vocês se falaram mais?

- Ah, então. Vou dar uma passadinha na casa dele hoje pra gente falar sobre o livro e as músicas da semana. - praticamente fui diminuindo o volume da minha voz gradativamente até a última palavra.

Ouvi um grito.

- HOJE TEM! - ela bateu palmas e eu não sabia se chorava de vergonha ou de rir.

- Para com isso, Dinah. Ele não quer nada comigo, nem eu com ele.

- E eu sou a Megan Fox - revirou os olhos.

The Rose in Black and White | Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora