32. Médico.

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THE ROSE IN BLACK AND WHITE.

32

Vancouver, Canadá.

O silêncio na sala de espera é torturante. 

Balanço um pouco os pés, tiro as malditas pelinhas que ficam ao lado da unha, desbloqueio e bloqueio o celular incontáveis vezes esperando que a hora passe mais rápido. Olho pro teto, parede, quadros, leio propagandas diversas vezes e repito algumas frases na minha cabeça. 

Encosto minha cabeça no ombro do Shawn enquanto meu irmão tenta passar de uma fase complicada do novo jogo em seu celular. 

- Eu desisto! - meu irmão sussurrou, por conta do consultório ser muito silencioso. Caso contrário, ele gritaria. 

- Eu também, vamos embora - ameacei levantar, porém, Shawn segurou meu braço. 

- Boa tentativa - sussurrou. - Não tem mais ninguém aqui, então você é próxima. 

- Eu agradeço a gentileza da sua mãe por ter marcado consulta pra mim, Shawn. Mas, eu estou bem! Não tive crises, não desmaiei, não morri... Então, estou ótima! - dei de ombros, ele negou com a cabeça. 

- Não vai convencer a gente - meu irmão se pronunciou. - Por isso viemos os dois, pra não cairmos no seu "joguinho emocional" - fez aspas com os dedos.

- Allyson Steinfeld - ouvi a voz da médica e pude jurar que meu coração parou de bater por alguns segundos. 

Desde pequena, sempre odiei médicos. E hospitais. E remédios. E agulhas. 

Ah, eu odeio agulhas. 

Sim, eu pareço uma criança nesse quesito. 

Levantei-me e fui em direção a sala. Antes de fechar a porta, vi Shawn e Jack sorrindo com seus polegares erguidos, em um ato motivacional. 

Falsos.

- Oi, Ally. Sou a doutora Katherine. Pode se sentar - sorriu simpática e estendeu a mão. Apertei-a assim que me sentei na cadeira. - O que te trouxe aqui?

Um carro.

- Bom, tenho problemas com a minha imunidade - ajeitei-me na cadeira.- Sempre foi assim, ela abaixa e estabiliza, o tempo todo. Mas, de umas semanas pra cá, sinto que ela está baixa. Eu...

- Desmaiou nesse tempo? - perguntou, enquanto digitava rápido no computador.

- Uma vez. 

- Tonturas?

- Às vezes, sim - respondi. 

- Alergias? 

- Muitas. E fico enjoada também.

- Mas enjoos não são por conta da imunidade - tirou os olhos do computador, levando-os até mim. - Quantos anos você tem?

- Dezessete. Mas eles são só...

- Está namorando? - me interrompeu novamente. Respirei fundo e assenti. - Vocês já tiveram relações?

- Algumas vezes - respondi pausadamente. - E todas foram bem protegidas. Olha, eu acredito que seja...

- Toma anticoncepcional? 

Ela tá me testando. 

- Não, doutora. Mas, não acho que seja...

- Já fez o teste?

- Será que dá pra senhora me ouvir? - elevei um pouco meu tom, sem perceber. - Me desculpa. Olha, eu não estou grávida! Minha menstruação está em dia, caso queira saber. A única coisa que me fez vir aqui foi a minha imunidade. 

Ela voltou o olhar para o computador, digitando algo bem rápido. Em seguida, retirou três papéis da impressora. 

- Receitei duas vitaminas pra aumentar sua imunidade. Aqui tem algumas recomendações de alimentos que também ajudam - entregou-me um papel. - Também vai precisar fazer um exame de sangue. Fica pronto em seis horas. Depois, pode voltar aqui - peguei o restante dos papéis e me levantei. 

- Obrigada - forcei um sorriso, ela retribuiu. 

- Vejo você de tarde - fiz a surda e saí da sala. 

Shawn e Jack me olharam confusos.

- O que? - dei de ombros. 

- Você não ficou nem cinco minutos lá dentro - os dois levantaram. - Tem certeza que falou tudo? 

- Se ela me deixasse falar, Jack. Aquela mulher é doida! - sussurrei, Shawn riu e pegou os papéis da minha mão.

Entramos no elevador. 

- Vitamina, vitamina - Shawn lia em voz alta. - exame de sangue, recomendações e... Teste de gravidez?

Filha da mãe.

Os dois arregalaram os olhos e pude jurar que Shawn ficou mais branco que o normal. 

- Allyson do céu - meu irmão pegou o papel das receitas. - Você acha que tá grávida?

- Eu disse que aquela médica é doida! 

A porta do elevador abriu e Shawn foi o primeiro a sair. 

- Eu preciso de ar - falou. 

- Vocês acham mesmo que eu tô grávida? - segurei o riso. - Gente, sério?

- Ela incluiu o teste de gravidez na receita, Allyson! - Jack me mostou. 

- Calma! Eu disse que sentia enjoos e ela que veio perguntar se eu já tive relações, ela é doida! Acho que alguma coisa que eu como tá me fazendo mal, acalmem! - passamos pela porta de saída e andamos pelo estacionamento. O tempo estava nublado e frio.

Nenhum dos dois comentou mais nada.

Tento não pensar que eles não estão acreditando em mim, porém é inevitável. 

Shawn ergue as mangas do moletom e vejo suor em sua testa, mesmo no frio. Concluo que ele está preocupado. Muito preocupado.

E não está acreditando em mim.

- Espera aí, você tem exame pra fazer! - Jack parou de andar. 

- Outro dia eu faço, quero ir pra casa - cruzei os braços e continuei andando sozinha até chegar no carro.

Depois de um tempo, Shawn veio até mim.

Seu moletom já cobria seus braços por inteiro e ele não estava tão pálido. Meus olhos continuaram focados no chão, enquanto ele colocava uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. 

- Me perdoa por surtar - falou, não respondi. - Eu sou um medroso, eu sei. É que... Eu entrei em pânico pensando na possibilidade de ser pai agora e acabei não prestando atenção em você.

Encarei-o. 

- A médica é doida, eu avisei - dei de ombros, fazendo-o rir. - Só me escuta da próxima vez, tá? 

- Prometo - sorriu, selando nossos lábios em seguida. 


[...] 


Nick Vasconcelos: Pode vir até a escola? Eu e Antônio precisamos falar com você. 

The Rose in Black and White | Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora