I know I'm gonna love you any old way
What can I do? And it's true
Don't want nobody, nobody
Cause baby it's you— Baby It's You, Beatles.
🦋
Roseville, 1996.
Quando Julho chegou, a cidade aparentava ter sido acometida por uma vivacidade que em outras temporadas seriam só borrões de passagem. A sensação pegajosa dos sorvetes derretidos entre os dedos, da observação, quase científica, das luzes do enxame de vagalumes guardados em potes de vidro, iluminando pequenos pontos fosforescentes de bioluminescência em janelas abertas, assim como o cheiro forte da citronela que percorria as casas com um odor característico, pareciam uma experiência quase inédita, embora repetida todos os anos como rituais de iniciação.
Naquele ano, o entusiasmo foi acentuado por algum elemento mágico trazido pelo perfume da brisa salgada que vinha da costa, ou até mesmo pelas ondas sazonais de calor que acabavam por afetar nossas temperaturas corpóreas, causando uma espécie de delírio por hipertermia. Todavia, muito além das altas temperaturas que, provavelmente, nos impediram de pensar com clareza na maior parte do tempo, escancarado as portas das manhãs calorentas, que eram iniciadas pelos gritinhos eufóricos de Theo já mergulhado em uma piscina inflável no quintal, cercado de patinhos de borracha, até ficar com os dedos das mãos enrugados, enquanto papai sentava-se à sombra do Salgueiro para ler algum dos livros de capa azul que ficava na estante mais alta da sala, ouvindo seus discos favoritos, algo sobre aquele verão seria diferente de qualquer outro.
E foi.
Quando penso nisto, não consigo dissociá-lo do efeito caótico da fervura sufocante dos corpos adolescentes se misturando em um ambiente com pouca oxigenação, erguendo copos com bebidas alcóolicas e agarrando-se aos lábios mais próximos. O suor excessivo não era proveniente apenas dos dias quentes e da sensação de queimar, banhados de protetor solar de coco, debaixo de um Sol — que durante aquela época parecia muito mais presente e hedônico, como se em outra temporada a presença solar não fosse tão bem-vinda, resultando em efeitos colaterais aparentemente permanentes que iam muito além de uma insolação ou pescoços tatuados por bocas desconhecidas. Mas que mantinham seus sintomas por cerca de doze semanas, geralmente o mesmo tempo que duravam as constituições físicas das paixões até serem extintas pelas chuvas geladas de um Outono abrupto que nos levava de volta para a rotina corriqueira do início do ano letivo.
Também imaginei que meus sentimentos teriam data de validade e o prognóstico de minha cura surgiria de forma arbitrária. Em uma manhã qualquer de Setembro, acordaria sem qualquer vestígio notável da presença mortificante de uma paixão, feito um milagre noturno, a névoa do pesadelo teria chegado ao fim. Contudo, até hoje espero despertar sem que meu primeiro pensamento seja o mesmo rosto amado que permanece sublinhado em minhas retinas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
BADLANDS • JK.
Jugendliteratur[EM ANDAMENTO] Começou no verão de 1996, no auge de minha juventude, antes de ter experimentado o mundo, tocado o infinito e abraçado galáxias inteiras para chamá-las de minhas. Quando os poemas que prometiam dias felizes e as lembranças dos vestid...