Capítulo Onze (A garota que amava o poeta)

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So much for summer love and saying us

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So much for summer love and saying us

'Cause you weren't mine to lose.

— August, Taylor Swift.


🍒


Roseville, 1996.


"Você acredita no Paraíso?"

Sharon Marie poderia descrever a imagem com a mesma exatidão necessária das cores, evocada de um lugar sagrado onde a mantinha como um negativo revelando um instantâneo guardado no fundo da memória.

Jeon Jungkook havia cochichado contra a sua orelha, os lábios raspando nos seus fios de cabelo, guiando-a até as escadas que o sacristão escalava durante as manhãs, tocando o sino para anunciar o início da missa; um corredor minúsculo que a fizera pensar em como Roy, o coroinha abusado que ajudava Padre Stane e vivia tentando espiar por baixo de sua saia, cabia ali. Olhou para baixo, por entre as frestas da madeira, vendo as teias de aranha penduradas de maneira laboriosa sustentando a leveza do ar e observou os bancos abaixo dos seus pés, os rostos piedosos das imagens divinas voltados para as almas que horas antes estavam presentes, ocupando os lugares, agora, vazios.

Jungkook continuava desviando sua atenção, com as mãos furtivamente enfiadas em sua blusa enquanto ela mal conseguia piscar os olhos. A claridade externa que invadia a janela minúscula coberta por um vitral de anjos mergulhando em um infinito azul e com uma grande estrela central, era refletida neles; como se sob os olhos curiosos do Céu, tudo estivesse sendo observado.

Nunca tinha ido tão longe, nem mesmo com os garotos da Califórnia; com suas mãos atrevidas e experientes nos bancos de trás do ônibus escolar, nenhum deles jamais havia tocado seu corpo daquela maneira. 

Ainda lembrava dos movimentos espontâneos, oscilatórios, sem muita reflexão, que espreitava pela fenda segura das poltronas de couro preto, enquanto os rostos das meninas, as vítimas das mãos dissimuladas, pareciam nublados de um prazer egóico que anulava as presenças intrusas ao redor.

O suspense teatral de cortinas invisíveis erguidas somente em uma fresta miúda para apreciar uma esfera secreta, cujo plano principal era o espetáculo de olhos atenciosos voltados para as sensações lancinantes, que faziam Sharon apenas imaginar.

Durante o caminho até a classe, ouvia os comentários dos rapazes quando estavam em bando, como abutres, "e aí? ela liberou?", perguntava um deles,"saca só o cheiro disso aqui!", esfregando os dedos nos narizes um do outro.

Mas naquela tarde, lembrava que o Céu estava trancafiado e enraivecido, uma chuva despencara criando poças no jardim da escola e molhando seus sapatos no caminho. O cheiro agradável se misturava à brisa marítima. Se espremesse bem os olhos em duas fendas, era capaz de ver o oceano, ao longe, apreciando o momento de sua descoberta juvenil, ansiosa e imoderada.

BADLANDS • JK.Onde histórias criam vida. Descubra agora