Capítulo Vinte e Nove (Dos santos e dos diabos)

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She would've made

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She would've made

such a lovely bride

What a shame she's fucked in the head.

 Champagne Problems, Taylor Swift.


TW: Suicídio; menção ao uso de drogas ilícitas, relações abusivas, violência física e verbal.


🎭


Malibu, 2007.

James atravessou o umbral do quarto de hotel tirando os sapatos e os óculos escuros. Tinha desaparecido do Bel-Air por quase vinte e quatro horas antes de decidir retornar. Se aproximou com a familiaridade de um convidado distante, deixando um beijo frio em minha boca, a saliva letal perdurando ao redor do meu lábio; seu palato tinha gosto de noite virada, cinzas de charuto, e do batom de outra mulher que não me atrevia a perguntar o nome; poderia ser qualquer uma; seus casos de uma noite, as garotas de Malibu, ou até mesmo a irmã, por quem sua adoração velada extrapolava os limites do amor consanguíneo e um sobrenome, em uma espécie de cortesia apática com odor de lixo biológico, um título de amante herdado e entalhado na porta ao lado desde o seu nascimento.

Esses vislumbres de vertigem momentânea comprovando o que há muito parecia ser confessado em meus ouvidos pelos fantasmas da maldita mansão assombrada, dos velhos mortos ocupando os quartos vagos da residência Golden Malibu, se provaram mais do que epifanias delirantes do ócio. O primeiro Wood-Parker pendurado acima da lareira erguendo sua arma de caça sobre o ombro, cujo olhos me guiaram da sala até o escritório, mostrou o caminho.

A fatalidade compartilhada, como uma ruptura que sangra a constatação óbvia através da fenda da porta; um emaranhado de dedos cobrindo um par de seios nus, os ossos dos quadris de Rose roçando contra a mesa de mogno do escritório, enquanto James investia ânimo e amor fraternal contra ela, correspondido com gemidos e maneirismos de uma intimidade há muito desvendada. Caminhos traçados em mapas mentais, ansiados e revisitados repetidas vezes no refúgio pútrido dos cômodos silenciosos da casa.

A imagem era evocada de algum inferno cada vez que olhava para ele. Podia contar as sardas ao redor do nariz se me aproximasse um pouco mais, quase nas fendas da pele, uma garantia de humanidade, um resquício a qual recorria como um dispositivo de sobrevivência quando era inevitável demonizá-lo.

— Feliz aniversário, Jules. — Sacou do bolso um saquinho plástico completo com pílulas vermelhas e enfiou entre os meus dedos. A antecipação correu minha espinha dorsal antes mesmo de checar a quantidade de comprimidos preenchendo a embalagem.

Havia um cansaço clínico que se infiltrava em meus ossos, as fibras dos meus músculos tensionados e a carne exausta, o dia começava com sua implacável rotina de retraimento afetivo, sem muito espaço para sentimentalismo; Uma taça de gim para inaugurar a manhã, um pouco de dexedrina para me arrancar da cama, bolsas de gelo para diminuir o inchaço dos olhos após uma noite inteira de televisão, devorando pacotes de amendoins do mini-bar do hotel e inalando cocaína até minha mente extraviar a penúria.

BADLANDS • JK.Onde histórias criam vida. Descubra agora