Capítulo Vinte e Sete (Sob o armistício de estrelas cruzadas)

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Words from the mouths of babes

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Words from the mouths of babes

Promises oceans deep

But never to keep

 Peter, Taylor Swift.


🦋


Roseville, 1997.

Foi o Padre Stane quem descobriu primeiro.

Naquela tarde, logo após o Ano Novo, Jungkook havia passado pelo jardim e sussurrado discretamente duas ou três palavras para mim antes de cruzar o pátio da igreja em direção à sua casa, avisando sobre o bilhete deixado entre as fendas do confessionário. Naquela época, nossas habilidades em trocar mensagens se tornavam cada vez mais sofisticadas. Nunca assinávamos nossos próprios nomes, nem deixávamos pistas explícitas sobre locais e situações. No entanto, eu ainda estava corroída pelo medo de ser pega e não me sentia suficientemente segura nem mesmo sob o véu de um pseudônimo banal; levamos uma ou duas semanas para elaborar métodos ainda mais aprimorados de comunicação; uma densa e inexprimível dedicação de nosso tempo livre para criar pequenos bilhetes e cartas de amor devidamente codificadas. Passamos a trocar trechos de livros com páginas e parágrafos selecionados em uma sequência tripla; uma Bíblia pessoal com versículos amaldiçoados, ilegíveis aos olhos de um deus diferente daquele ao qual servíamos levianamente. Era uma religião feita para dois, com um evangelho particular que propagava as boas novas de nosso amor.

Os bilhetes começavam com a indicação necessária de uma leitura que precisávamos ter à mão. Jungkook havia me enviado uma mensagem com um trecho de "As Virgens Suicidas". As indicações seguiam uma combinação trabalhosa: uma página, um parágrafo e uma posição grafêmica. Às vezes, incluía um capítulo inteiro, caso não tivéssemos acesso à mesma edição. Era necessário caneta, papel e paciência, um trabalho suscetível a muitos erros.

Um sopro escuro de memória me coloca em passo errático até aquela tarde de clima ameno, o ruído se repetindo no estalido das madeiras compensadas da paróquia, Stane acompanhando Jungkook do lado de fora com olhos atentos, enquanto os meus desviavam para qualquer outro lugar, longe o suficiente para não levantar suspeitas. Uma embriaguez doce de paixão que nos tirava o senso de sutilidade.

Fui flagrada, é claro.

— O que esses bilhetes significam? — o terror que me atravessou talvez tenha sido a resposta que Stane tanto buscava para explicar a estranheza do meu comportamento e a proximidade anormal de Jungkook, que vivia enfiado nos corredores da igreja, tal qual uma carola, um papa-missas, sempre que eu estava por lá cumprindo minhas obrigações.

— São só indicações de leitura, padre. — A sensação esquisita preencheu meu estômago.

Stane observou o papel antes de me entregá-lo. O bilhete codificado parecia apenas uma série de numerações aleatórias escritas à mão.

BADLANDS • JK.Onde histórias criam vida. Descubra agora