Some kind of night into your darkness
Colours your eyes with what's not there
— Fade into you, Mazzy Star
🦋
Roseville, 1996.
Como tudo começou?
Eu diria que tudo já existia há muito tempo, talvez eu tenha apenas me dado conta naquele segundo, quando a ideia me tocou de um jeito diferente, quando o calor de uma quase estação perpetuou um sentimento e só então percebi que meu coração, inutilmente relutante, já estava atado ao dele.
Os verões em Roseville sempre davam pequenos sinais sutis de sua chegada antes mesmo que sua presença fosse solicitada conforme a ordem natural de clima e tempo.
As ondas de calor abraçavam os últimos dias da Primavera antes que ela pudesse, de fato, dar adeus, dificultando as manhãs de estudo dos alunos da St. Mary's High School, que se livravam de gravatas e blazers desconfortáveis de seus uniformes escolares e buscavam espaço na grama recém irrigada do jardim frontal do prédio durante o horário caótico do almoço.
Tudo se tornava uma tentativa de amenizar a umidade enjoativa dos dias calorentos, do perfume adocicado e perdurável das madressilvas que atravessava o jardim de Padre Stane até o pátio da escola, no meio de um plano de fundo quente e tingido de sépia como algum desses filmes setentistas que Taehyung e eu passávamos horas assistindo no porão da casa dele.
O prédio antigo, em formato de caixa e com janelas de vidro ao redor como telas gigantescas, era repleto de pilastras brancas tão altas que era necessário levantar os olhos o máximo possível para enxergá-las bem presas ao teto, com seus aspectos similares a um templo grego.
Tinha aqueles tijolos alaranjados e crus que seguiam a mesma tonalidade opaca da paróquia, com ares de orfanato religioso e algum resquício do pós-guerra, como a Srta. Geller explicava, pacientemente, a cada fim de primavera. Uma maneira inocente e pouco sutil de nos levar até a fundação de Roseville nos arredores da costa, a temática do 4 de Julho e sua importância, durante as aulas de História
Me estiquei na grama úmida, arranhando os mocassins pesados do uniforme um contra o outro e alcançando as frutas secas enroladas em papel celofane que a sra. Kim havia embrulhado para nós, enquanto avançava na leitura de As Virgens Suicidas, que havia ganhado de Taylor após o seu retorno de Rhiannon, na semana passada.
Roseville não oferecia muitas distrações e se tratando de livros, na maioria das vezes, tínhamos que nos contentar com o acervo parcial e improvisado da biblioteca escolar que passava por uma inspeção minuciosa de tempos em tempos feita pelas carmelitas, retirando todas as obras que consideravam inadequadas para jovens de nossa idade. Taylor quase sempre me trazia livros quando viajava para a cidade vizinha, revistas em quadrinhos para a coleção de Taehyung e outras bobagens de cidade grande que ficávamos apenas sonhando em ter, admirando em comerciais na TV ou folheando nas revistas adolescentes quais eram os privilégio dos citadinos: discos de rock, fitas cassetes e livros de todos os gêneros, sem restrições parentais.
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BADLANDS • JK.
Ficção Adolescente[EM ANDAMENTO] Começou no verão de 1996, no auge de minha juventude, antes de ter experimentado o mundo, tocado o infinito e abraçado galáxias inteiras para chamá-las de minhas. Quando os poemas que prometiam dias felizes e as lembranças dos vestid...