Slipping through my fingers
all the time
I try to capture every minute
The feeling in it.
— Slipping Through My Fingers, Abba.
🎭
Roseville, 2008.
O carro esportivo de James estava estacionado diante da fachada da casa dos meus pais quando retornei pela manhã. Reconhecia o Pontiac Fire Bird 1977 preto à distância, o favorito da coleção. A placa indicava a origem, distante demais dali, me fazendo involuntariamente revirar os olhos por pensar na possibilidade de seu esforço desmedido para estar sempre em primeiro plano, vomitando fortuna e arrastando seu automóvel de brinquedo por oito estados na expectativa de exaltar sua presença impostora como um emblema patético que atraía olhares.
A calmaria comum do bairro tinha dado lugar àquela movimentação que ruminava as intromissões; alguns vizinhos se reuniam em seus gramados com desculpas baratas de aparar uma grama visivelmente cortada, lavando carros retirados das garagens às pressas ou levando crianças sonolentas, segurando seus cereais matinais em tigelas coloridas, para um passeio pela calçada enquanto os olhos e ouvidos permaneciam atentos às atividades da casa 72.
O Sr. Bates cumprimentou Taehyung através do para-brisas do carro, correndo os olhos para o rosto familiar ocupando o banco do passageiro na tentativa de me alcançar com seu educado olá, mas desviei a tempo, até o carro cruzar a rua, parando ao lado da casa da Sra. D'Angelo, com seu jardim ainda impecável como me lembrava. Havia ganhado por dois anos consecutivos o título de jardim mais bonito do bairro, em competições movidas pelo tédio suburbano e pela observação desmedida da vida alheia.
O cheiro da grama recém irrigada penetrava pelas janelas com aquele ar de nostalgia cansada, um sentimento letárgico que causava um incômodo pouco inédito, como as metades árduas do dia, os finais de tarde e os inícios da manhã.
Taehyung não disse uma palavra. Permaneceu em silêncio durante todo o trajeto; a parcimônia do que era dirigido a mim parecia uma escolha que havia mudado da noite para o dia. Ouvi sua voz pela primeira vez somente naquele "olá" ao Sr. D'Angelo, segurando o volante como se estivesse a ponto de arrancá-lo.
Quando olhei para ele, encarava as próprias mãos na direção como se reconhecesse um par de membros que não lhe pertenciam.
— Obrigada pela carona — disse, arrastando-o para fora de seu transe de culpa. Ele secou as gotas de suor com as costas da mão, desligando a ignição do carro. Havia uma distância casual e silenciosa entre nós.
— Ontem eu passei dos limites com você — eu disse, o tom de voz tão baixo que mal me alcançava ali, no banco do passageiro. — Isso não vai acontecer outra vez.
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BADLANDS • JK.
Ficção Adolescente[EM ANDAMENTO] Começou no verão de 1996, no auge de minha juventude, antes de ter experimentado o mundo, tocado o infinito e abraçado galáxias inteiras para chamá-las de minhas. Quando os poemas que prometiam dias felizes e as lembranças dos vestid...