Capítulo Vinte e Seis (O para sempre é só uma doce vingança)

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If the glint in my eye traced the depths of your sigh

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If the glint in my eye traced the depths of your sigh

Down that passage in time back to the moment

I crashed into you, like so many wrecks do

Too impaired by my youth to know what to do

 Chloe or Sam or Sophia or Marcus, Taylor Swift.


🍒


Roseville, 2007.

Sharon não conseguia desviar os olhos dela.

Encarava o pedaço de papel brilhante da revista que estava escondida entre o travesseiro de Taehyung e a cabeceira da cama de casal. Havia o visto lendo-a tarde da noite, após o plantão, e sabia de quem se tratava. Há tempos não a via, nem lembrava com exatidão a última vez.

Mas ali, enquanto impacientemente aguardava os cinco minutos que eram indicados na embalagem do pequeno exame que havia surrupiado da conveniência pela manhã sem que Kim percebesse, leu sobre o anúncio do noivado da menina de rosto familiar, agora mais velha e muito mais bonita, com trejeitos de mulher adulta e com um nome inventado, — que ainda corria ao seu pensamento vez ou outra —, estampava a capa e as folhas centrais com uma longa matéria sobre o atual status de seu relacionamento.

Folheou a revista vendo as fotos, os preparativos e o luxo da festa, o solitário de tantos quilates decorando o dedo, o sorriso presunçoso de um herdeiro de nome extravagante ao lado dela, uma vida distante demais da pacata Roseville, engolidora de sonhos, do amaldiçoado condado e das cercas brancas ao redor das casinhas de telhados idênticos e seu aprisionamento claustrofóbico, vizinho ao campo de algodão corroído de pragas. E também distante daquele passado tão assombroso que Sharon se questionava se havia, de fato, existido. Será que aquela Juliet fajuta ainda pensava em Jungkook vez em outra como ela costumava fazer?

Ainda via a si mesma, aos dezessete, naquele Natal funesto de anos passados, parada diante da casa azul-grisácea de Sofia, quando essa ainda era a alcunha pela qual um punhado de pessoas nos confins daquele lugar a conhecia, observando o carro de Jungkook estacionado no jardim enquanto os dois se enroscavam em uma despedida apaixonada. Sharon estava vestida em um par de meias-calças finas que já haviam rasgado nos joelhos quando despencou no asfalto de alguma rua qualquer, correndo fora de si em seu vestido arruinado. Não lembrava com exatidão o trajeto, nem da decisão de escapar da festa da igreja e traçar a rota de Jungkook pela cidade madrugada adentro em algum lapso de insanidade temporária, mas recordava de tê-lo visto nos fundos da velha escola na noite em questão, pensou não passar de outro delírio de saudade, desses que acometiam as noites mais quentes, insones, perfurando suas memórias e então, outra vez, transpassando dolorosamente o coração. Quando os refrões das canções mais tristes do rádio esbarravam em sua própria miséria, como se entoadas de dentro para fora. Sentia saudade não só do que tiveram, mas do garoto que existia antes da partida forçada. Do sangue quente, do desejo e do perigo. Daquele que seria capaz de tocá-la até enlouquecer sua cabeça outra vez.

BADLANDS • JK.Onde histórias criam vida. Descubra agora