Capítulo Treze (Seus olhos falam e eu responderei)

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You're like a villainIn some old film,Walking in the darkIn somebody's room

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You're like a villain
In some old film,
Walking in the dark
In somebody's room

— Quiet, The Winter Harbor, Mazzy Star.


🦋


Roseville, 1996.

Os bolsos da jaqueta de couro esquecida estavam preenchidos de vestígios de Jungkook; um maço de cigarros pela metade, um isqueiro de modelo zippo, com a gravura de uma rosa e um versículo bíblico "Eu sou a rosa de Saron, o lírio dos vales", corroído pela ferrugem nas laterais, uma folha de caderno com um texto escrito frente e verso, em coreano e balas de tangerina Sunkist Sours.

Mantive tudo escondido dentro de uma caixa de bonecas que papai havia me presentado há dois verões, quando ainda me interessava por brinquedos e minha coleção de françaises poupées, que ficavam na prateleira acima da minha cama, eram o motivo do meu maior orgulho. Os rostinhos delicados e de bochechas pintadas de cor-de-rosa que guardavam meu sono foram substituídos pelos estojos de acrílico das minhas borboletas e mariposas taxidermizadas, contudo, as bonecas continuaram ocupando as prateleiras do quarto, na lateral.

E a caixa preciosa permaneceu escondida debaixo da cama, como um tesouro secreto incursionado ocasionalmente.

Vez ou outra, voltava para observar seus pertences como se uma parte dele estivesse ali. Colocava um dos cigarros na boca e diante do espelho — vestida na jaqueta de Jungkook com a gola voltada para cima, sobre o pijama —, imitava os trejeitos de James Dean segurando um cigarro entre os dentes e pendendo sob o lábio inferior, o mesmo truque charmoso, antes de soltar uma fumaça imaginária que embaçava o reflexo no vidro. Naquela época, não tinha coragem de experimentar o entusiasmo narcotizado de fumar um cigarro. Ficava tudo no imaginário do ensaio.

O cheiro aditivo da menta era um perfume ardia quando o filtro deslizava sob as narinas, uma bruma forte que se dissipava quando aceso; a sensação por si só parecia tão rebelde e incriminatória que me dava por satisfeita: assistir o filtro queimar no parapeito da janela e então, apagá-lo, espirrando perfume pelo quarto na tentativa de dissipar o odor. Mantendo todos os anjos no altar do meu quarto com os rostos voltados para a parede, evitando que fossem testemunhas do meu pecado. A gravidade de ter cigarros em casa e ensaiar uma tentativa de fumá-los era tão condenatória quanto fazê-lo. Desde cedo aprendi que a vontade tem a mesma equivalência do feito. No entanto, o maço de cigarros jamais foi devolvido ao possuinte e seria parte de minha coleção pessoal de souvenirs roubados. [peça Nº 26 na caixa].

As balas de tangerina Sunkist Sours, as mesmas que prometiam ser uma fonte de vitamina C nos anúncios de TV, foram consumidas em tempo recorde. A dedução era óbvia; aquele deveria ser o gosto da boca de Jungkook. A cena se montava em minha mente com facilidade; a língua prensando as balas preguiçosamente entre os dentes, resquícios de sabor que seriam perceptíveis em seu hálito adocicado ou talvez em seu beijo.

BADLANDS • JK.Onde histórias criam vida. Descubra agora