Querida Bonnie,
que você tenha extrema inspiração para seu romance
ainda não escrito.
Você já é uma verdadeira contadora de histórias,
então estou colocando minhas memórias
nas mãos mais seguras que conheço.
Feliz aniversário.
♥
Dedico estas saudosas memórias ao poeta:
— Jungkook, onde estiver, saiba que em cada uma destas páginas eu fui amor
e amei você.
Os lábios dele tinham gosto de mar; eu me lembro disso.
Minha mente se arrasta lentamente até a recordação dessa sensação assim que a brisa salgada atinge meu rosto, arranhando a pele com delicadeza, como se o verão fosse uma entidade feliz que festeja a própria chegada arremessando beijos ao ar. Naquele segundo crucial em que abro as janelas mais altas e sinto a maresia invadir a sala, me acolhendo dentro de um abraço confortável.
A caixa trazida até o meio da casa (esta que, provavelmente, você acabou de receber na casa da sua avó), repleta de poeira que se dissipa em círculos conforme o vento quente toma espaço ao redor das cortinas, permanece com a mesma tonalidade azul-lavanda de trinta anos atrás por baixo da camada de pó que se prende aos dedos. Não tinha mais o cheiro enjoativo e artificial de morango como quando a ganhei de papai, com uma bonequinha francesa dentro, mas continuava intacta.
Havia doado a boneca ao orfanato de Santa Mônica há anos, mas mantive a caixa escondida no sótão, e dentro dela, fragmentos de um passado feliz: algumas cartas de amor que não eram minhas, flores ressecadas, bétulas e miosótis azuis que já perderam a cor, um ou dois diários de motivos florais e anotações em uma pilha de folhas dobradas ao meio: testes de matemática, horários de aulas, autorizações do clube de teatro com manchas amareladas por baixo da assinatura do Professor Chung-Ho Min, além de meu primeiro roteiro, rabiscado de corações e iniciais pelas bordas, de quando apresentamos Sonho de Uma Noite de Verão no penúltimo ano do ensino médio.
Há algumas fotos desses momentos, com rostos jovens e sorridentes, pintados com glitter e garotas usando asas de fadinhas alegres, enquanto Taehyung contrastava entre nós, com sua coroa de flores, dando vida a Puck.
O melhor Puck desde Neil, em Sociedade dos Poetas Mortos, costumávamos dizer.
Reabro um dos diários e releio alguns trechos; a letra cursiva ainda de menina, substituindo os pingos nos "i's" por corações minúsculos e enchendo as páginas com anjos, estrelas e letras de músicas famosas. Conversava com uma folha em branco como se estivesse transcrevendo momentos para algum amigo íntimo e curioso que não me deixava passar nenhum detalhe despercebido: o decorrer do dia, meus pensamentos, o que sentia. Parecia prever que escrevia para o futuro, e hoje entendo que escrevi para você, minha menina.
Por debaixo deles, há uma coletânea de fitas cassetes caseiras rotuladas com o nome do garoto que conheci, o dono do rosto na foto enfiada dentro de uma bíblia em minha mesinha de cabeceira, que despertou sua curiosidade dois verões atrás. O velho Walkman azul, que provavelmente já foi descartado do mercado há mais de uma década, também está aí, dentro dessa caixa: o mesmo que vivia pendurado nos bolsos do seu jeans e com os fones sempre ao redor do pescoço, bagunçando seus cabelos, enchendo de pequenos nós na nuca.
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BADLANDS • JK.
Teen Fiction[EM ANDAMENTO] Começou no verão de 1996, no auge de minha juventude, antes de ter experimentado o mundo, tocado o infinito e abraçado galáxias inteiras para chamá-las de minhas. Quando os poemas que prometiam dias felizes e as lembranças dos vestid...