Há muito tempo atrás....
Era difícil permanecer com os olhos fechados quando o som das palavras gritadas atravessava as paredes do meu quarto. Não importava o quão grossas as minhas paredes pudessem ser, as palavras sempre tinham peso o suficiente para derrubá-las e espalhar seus entulhos por todo o meu quarto de paredes azuis-tristeza. Não havia outra cor senão essa. Ela estava em todos os lugares e em todas as coisas, porque, assim era a minha vida e não havia outra maneira de ser ou de estar.
Naquela pequena sala, dois seres que se denominam humanos, porque o sentido dessas palavras já se deixou levar pelos ventos inapropriados, estavam de frente um para o outro, com as mãos gesticulando freneticamente, com os olhos zangados e com os lábios em constante movimento, expondo fatos contestáveis sobre coisas inúteis, mas que era o necessário para quebrar o conceito de família feliz.
E assim, as noites ganham uma única fórmula geral que sempre gera o mesmo resultado; Papai mais mamãe é igual a briga.
Do meu quarto, tudo que eu podia fazer era tentar ignorar o que acontecia ao meu redor. O que era difícil quando de dez das palavras, três se referiam a mim.
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— As orações subordinadas substantivas podem ser classificadas em objetivas diretas, indiretas e... senhor Martinez quer por favor prestar atenção na minha aula! — esbravejou a professora com uma voz de advertência.
Levantei a cabeça que até então estava repousada nos meus braços sob a carteira. Demorei um pouco para manter os meus olhos abertos.
— Desculpe-me, senhorita Carvalho.
— Se continuar a dormir assim nas aulas, não vai conseguir tirar uma boa nota na prova — sussurrou uma voz meiga em meu ouvido.
Virei-me para encarar a dona da voz que sussurrara aquelas palavras. Melissa estava radiante como sempre estivera. Seu olhar perseverante encarava os meus olhos com um toque de pena. Desviei o olhar para o chão.
— Não tenho culpa se meus pais não me deixam dormir.
— Você deveria falar isso para a professora. Acho que ela pode ajudar....
— Como? Chamando meus pais aqui e dizer coisas do tipo "Vocês deveriam parar de brigar, pois estão atrapalhando no rendimento escolar do seu filho"? Não, isso não vai funcionar, Melissa. Eles vão brigar ainda mais.
— Você tem certeza disso, Chris?
— As minhas notas do ano passado não me deixam mentir.
Melissa assentiu e não toquei mais no assunto. Tentei me manter acordado o restante da aula, o que não funcionou.
Não sei o que aconteceu hoje, mais depois da Senhorita Carvalho, nenhum professor havia me acordado. Eu só despertei com o sinal do término da aula.
— Eaí, senhor dorminhoco, como vai as coisas — disse Sarah Ellen ao esbarrar comigo no corredor.
— A minha fama de dormir nas aulas chegou até na sua sala?
— A senhorita Carvalho não para de citar você e suas notas baixas, usando você como se você uma ameaça. Ela diz que todos podem acabar como você se não prestarem atenção nas aulas dela.
— Ah, tinha que ser a Senhorita Carvalho.
— Sabemos que no fundo ela te ama, Chris — falou Sarah em tom sarcástico.
— Não posso dizer o mesmo.
Saímos do prédio da escola e encaramos o jardim cheio de alunos em movimento. No canto esquerdo, debaixo do pinheiro, avistei o grupinho do Roger conversando euforicamente. Todos com um ar de travessura no rosto.
— Queria poder saber o que eles andam tramando... — disse Sarah.
— Por que não vai atrás deles? Digo, sabe, todos desconfiam que eles saem à noite, por que não os segue?
— Você viria comigo? — Ela perguntou.
— Por que eu iria com você?
— Você não consegue dormir mesmo.
Pensei um pouco. Já que as minhas noites não servem para dormir, tenho de aproveitá-las de alguma maneira.
— Ok. Eu vou com você. Quando está pensando em segui-los?
— Hoje à noite.
— Hoje? — recuei.
— Claro! Olhe para eles — disse ela apontando com a cabeça — parecem tão animados. Eles estão tramando alguma e eu vou descobrir o que é.
— Sarah, por que você quer tanto descobrir o que eles fazem? Quer dizer, o que ELE faz. Não que eu tenha alguma coisa a ver com a sua vida, mas, você ainda não superou o Roger?
— Claro que superei. Eu... é só que... eu... tá, você tem razão. Eu ainda não o superei e quero descobrir o que ele faz à noite.
— Saquei. Você quer descobrir se ele transa....
— Chris! Para, tá bom? Nos encontremos hoje à noite em frente à casa do Roger. Vamos descobrir de vez o que eles fazem.
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Chamada: A Origem
HorreurLivro 4 "- Já ouviu falar naquele teste para saber se você é um psicopata ou não?" Era uma vez um psicopata. É assim que as histórias trágicas começam. E foi bom tocar no assunto de começos, pois, chegou a hora de saber como a bola de neve que ca...