Corredor sombrio

605 107 19
                                    

Tentar seguir um carro sem ser notado parecia mais fácil nos filmes. Sarah tinha um conversível rosa, o que não ajudava muito no disfarce, uma vez que ela era a única pessoa da escola que possuía tal veículo e Roger o conhecia muito bem, pois aquele carro vivia parado na porta de sua casa quando os dois ainda namoravam.

O silêncio dentro do carro e os olhares esquisitos de Chris não deixavam Sarah Ellen nada confortável. Ela sempre o achou meio esquisito, grande e forte demais para a sua idade. Ela ouviu por aí que ele treina em casa. E os boatos não eram falsos. Nos últimos dois anos, as noites que ele não dormia eram aproveitadas com flexões, levantamento de peso e alguns planos de como usar a força para desfigurar a cara de alguém.

— Chirs — começou Sarah — como vão as coisas na sua casa?

— Você se importa?

— Qual é, Chris? Estudamos juntos desde o primário! É claro que eu me importo.

— Eles continuam brigando.

— O que você fez dessa vez... Oh, desculpa, eu... — Sarah só percebeu o erro que cometeu quando já o fizera.

Sarah olhou de soslaio para a cara de Chris e nunca imaginou que ele pudesse ter uma expressão mais fria do que o natural. É claro que ela sabia que aquele rapaz sempre causava algum tipo de "problema" e, é claro, que ela também sabia que ele tinha alguns problemas em reconhecer o que tem feito.

— Veja, eles estão parando! — Disse ela para quebrar o silêncio que se instalou novamente.

O Carro de Roger estacionou perto dos trilhos. Aquela área havia sido abandonada fazia décadas. Havia um trem descarrilhado ao lado de um prédio em construção igualmente abandonado.

Sarah parou o carro a certa distância do local. Ao descer do carro, Sarah e Chris olharam em volta. O trilho descarrilhado, o prédio em construção abandonado, o céu nublado, sem casas pelas redondezas, lotes abandonados, uma brisa fria... tudo aquilo fazia com que uma sensação desagradável surgisse. Somente em Sarah, é claro. Chris não se sentiu afetado. Era um lugar qualquer em uma noite qualquer. Para ele não fazia diferença alguma.

Roger e sua turma entraram no prédio e não foi mais possível ouvi-los do lado de fora. A dupla que os seguia se apresaram para entrar no local.

Estava muito escuro lá dentro e não dava para enxergar muita coisa. Sarah arrependeu-se amargamente de não ter trago uma lanterna ou ao menos o seu celular. Eles atravessaram o hall do prédio, desviado de entulhos quando estes bloqueavam o caminho até chegar nas escadas. Chris parou subitamente de andar quando chegou no primeiro andar. Ele encarou o sombrio corredor.

— O que foi? — sussurrou Sarah em seu ouvido ao perceber que Chris parara de andar.

— Está quieto demais...

— Como assim está quieto demais? — sussurrou novamente.

— Roger, se você bem o conhece, não consegue ficar em silêncio por mais de trinta segundos.

— Você acha que eles não estão mais aqui? Eles podem ter saindo pelos fundos....Ei Chris! Onde você está... Chris, ei, espera — Sarah gritava em sussurros ao perceber que Chris saiu andado pelo sombrio corredor.

Sarah tentou segui-lo, mas acabou o perdendo para a escuridão do corredor.

— Hey, Chris! Cadê você?

Nenhuma resposta. O único som que ela escutava era o da sua respiração se tornar mais rápida. Estava ela começando a se apavorar? Ali, encarando a escuridão e o silêncio igualmente devastador, alguns pensamentos vieram lhe perturbar. Pensamentos como as últimas ações bizarras de Chris na semana passada.

Ela se virou para a direção da saída. Ela iria embora dali. Foi uma péssima ideia seguir Roger e sua turma e foi preciso um pouco de silêncio para perceber isso. Engraçado como tudo funciona melhor quando não tem nenhum barulho lhe incomodando, quando não tem nenhuma interferência. Assim, sua mente se concentra no óbvio. Sim, foi uma péssima ideia, concluiu ela.

Quando Sarah deu o primeiro passo para ir embora, ela escuta um ruído. Não um ruído baixo e discreto. Mas, um barulho de algo caindo. E algo, no fundo da sua consciência, dizia que aquele barulho não foi proposital.

Estava ali a chance dela sair correndo de vez, sem olhar para trás e chegar em seu carro e dá o fara dali.

Mas não foi isso que suas pernas fizeram. Elas nem se quer se moveram. Seria a paralisia causada pela sensação de medo?

Aquilo parecia ridículo.

— Chris? É você? — disse Sarah insegura.

O silêncio continuava a reinar.

— Chris, se for você e estiver zuando com a minha cara, eu vou arrastar a sua cara no asfalto!

Ela esperou que alguma voz respondesse que era sim uma brincadeira e que aquilo tudo era para assuntá-la, mas não houve nenhuma resposta. Ela estava ficando ainda mais apavorada quando, inesperadamente, uma luz surgiu no fim do corredor. Parecia uma luz de lanterna, vindo do quarto esquerdo.

Uma curiosidade insana invadiu a sua alma. Ela queria ir até a luz. Só podia ser Chris ou Roger. Tinha de ser eles. Foram as únicas pessoas que entraram no prédio....

E então, seu medo foi embora.

— Já entendi tudo. Vocês me pegaram... Engraçadinhos... — disse Sarah, agora com um sorriso, caminhado para o fim do corredor, em direção da luz

Quando chegou no final, virou à esquerda para entrar no quarto e foi quando tudo aconteceu.

Seu grito agudo ecoou pelo prédio abandonado.

Não esqueça do like!

Chamada: A OrigemOnde histórias criam vida. Descubra agora