Ele sabe o que ela fez

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Três quarteirões e meio andados e ainda restavam mais dois para chegar em casa. Durante o caminho, Chris esteve pensando seriamente se ele deveria voltar ou não. Todos os dias ele entra nesse conflito consigo mesmo. Seus pais almoçam em casa e não queria ter que chegar e ser, outra vez, o motivo para o início da briga entre eles.

Sem perceber, distraído em seus pensamentos, já havia se aproximado da casa. Avistou o carro prata do seu pai estacionado na entrada da casa. Seu estômago revirou. Ele via aquele carro todos os dias ali, nesse mesmo horário, e mesmo sabendo que o casal poderia estar brigando, ele não sentia medo. Mas hoje foi diferente. Sabe quando você tem uma sensação de que algo ruim está prestes a acontecer. Sabe aquele arrepio de leve na nuca, as pernas trêmulas, o aperto no peito, o frio no coração? Algo lhe dizia que não deveria entrar naquela casa. Não agora, não naquele momento.

Chris parou de andar quando ficou lado a lado do carro. A porta da frente estava ali, a poucos passos dele. Estava estático, parado, com o suor escorrendo sobre sua testa. Sua respiração estava contida, estava pronto para o pior.

Levou um susto quando escutou o telefone da sua casa tocar. Aquele toque estridente, trincado e arrastado.

Quis correr, mas, ao contrário do que pensava, não era por medo.

Era por culpa.

///

Ele correu.

Correu sem rumo.

Sem direção.

Correu porque o vento lhe dava uma sensação de leveza, uma sensação de liberdade.

Correu porque não queria pensar. Não queria ter que lidar com as consequências do que tinha feito. Mas precisava.

Há três dias a única garota que enxergava o lado bom que havia em seu interior caiu de um prédio abandonado e morreu. Isso o deixou transtornado. Isso o deixou abalado. Naquele dia ele chorou tanto que seus olhos embaçados de lágrimas dolorosas não enxergou um vulto correndo sem direção, assim como ele fazia agora. Uma corrida na trilha da culpa era tudo que haviam em comum. No dia seguinte, quando todos foram chamados para depor na delegacia, Chris notou que uma pessoa não estava lá.

A culpa pesa novamente. Seus olhos embaçam e não enxergam o corpo em sua frente.

— Chris! Ei, o que você está fazendo? — disse Larissa ao recuperar o equilíbrio após seu corpo chocar com o de Chris.

— Larissa? — disse ele confuso.

— O que está acontecendo com você, Chris?

— Eu...

Ele queria contar, mas as palavras não saíam.

— Ei, Chris, está tudo bem.

Havia apenas duas pessoas no mundo que Chris confiava. Uma delas estava morta. A outra, em sua frente.

— Podemos conversar em outro lugar?

— Claro. Estou voltando para casa. Vem. — disse ela pegando sua mão e o puxando ao começarem a caminhar.

Após se acalmar, Chris perguntou:

— Como você está?

— Não muito bem.

— E sua mãe?

Chamada: A OrigemOnde histórias criam vida. Descubra agora