A Seita

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Certa vez, Sarah ouvira um de seus amigos dizer que o medo é um sentimento que nos faz lembrar que somos humanos. Ela lembrou de questionar que os outros animais também sentem medo e isso desbancava a teoria dele. Para se defender, o amigo disse que ainda assim, o medo não deixava de ser um sentimento que lembrasse que somos humanos, uma vez que deixamos de fazer coisas por medo, deixamos de sentir outros sentimentos por medo, fracassamos por medo e, principalmente, erramos por medo. Há coisa mais humana do que errar? Naturalmente tem, mas para aquela discussão, aquilo já era o suficiente. Por míseros segundos, durante o seu grito agudo, ela pensou não só no medo, mas no erro também. Estaria ela errada de ter seguido Roger e seus amigos naquela noite? Estaria ela errada de chamar o cara mais estranho da escola para ir com ela? Estaria ela errada em seguir aquela maldita luz? Se a resposta para todas essas perguntas for um sim, ela errou e muito. O erro a faz humana e isso não a tranquilizou. Humanos são fracos, são vulneráveis. Humanos morrem. E morrer era uma ideia que permeava a sua mente, principalmente por ter uma mão, nesse exato momento, tampando a sua boca para abafar o seu grito. Morrer já não era só uma ideia distante, morrer era uma ideia que possuía massa e calor. Um corpo estava atrás dela a segurando pela cintura, impedindo que se movesse.

E agora? — Pensou.

Todas aquelas notícias de mulheres sendo estupradas antes da morte vieram à tona em sua mente. Todos aqueles casos de desaparecimento e sequestro e morte e estupro e tortura e.... basta!

O desespero aumentava a medida que nada acontecia. Eu já deveria estar morta, o que eles estão esperando? A inquietude de seus pensamentos a mataria se a pessoa que a segurava não o fizesse.

Ela ainda tentava se libertar quando escutou um som estranho. Era como se alguém estivesse tentando conter uma risada. Ela parou de se movimentar e foi quando o som de uma risada invadiu o local

— Ah, fala sério Ana Laura!

— É, vacilou!

— Estragou tudo.

— Gabriela, já pode acender a lanterna aí. Chris, já pode soltar a Sarah.

Gabriela acendeu a lanterna e não só o ambiente se iluminou, mas as ideias de Sarah também.

— O que... espera... vocês... — Sarah ainda estava em choque.

— Isso foi para você aprender a não xeretar a vida dos outros — disse Roger.

— Seu idiota! — Sarah conseguiu recuperar a voz — Você acha engraçado o que fez? Eu REALMENTE me assustei aqui! Eu... vocês são uns idiotas! — disse Sarah caminhando para a entrada no quarto.

— Ei, Sarah! Espere! — Gritou Chris. Sua voz era grossa, o que fez ela parar de repente.

— O que foi? — Disse ela se virando.

— Desculpa, ? A gente só queria passar um susto em você.

Sarah olhou nos olhos de Chris.

— Bom, vocês conseguiram — disse ela ainda brava.

— Eu sinto muito.

— Você sabia disso o tempo todo, eu não acredito que caí nessa...

— Ei, não me julgue com esse olhar. Se você está aqui, é porque queremos você aqui. Todos nós aqui também passamos por um susto desse no início. É como se fosse uma tradição, sabe?

— Tradição para o que, Chris?

— Para a Seita.

— Se.... o quê?

— Olha, todos nós aqui achamos você muito legal — disse Ana Laura.

— Roger fala muito de você — disse Gabriela.

— Nós pensamos que, talvez, seria boa ideia ter você na Seita também — disse Roger a encarando nos olhos.

— O que é exatamente a Seita?

— É como chamamos o nosso grupo, sabe. Mas, calma, não fazemos bruxarias nem invadimos cemitérios, nem nada do tipo. Nós achamos esse prédio abandonado e quando estamos de saco cheio da escola, dos pais, dos problemas da vida, trazemos umas bebidas para cá e jogamos alguns jogos, podemos fumar tranquilos aqui também. Bom, pode parecer idiota para você, mas, realmente nos divertimos aqui. Pensei que você também gostaria de se divertir um pouco — disse Roger com um tom um pouco mais vulgar.

— Eu não sei...

— Por que você não fica aqui essa noite e veja como nos divertimos — disse Yago começando a fazer alguns toques com seu violão.

— Eu lembrei de trazer gelo dessa vez — disse Fernando abrindo uma garrafa de vinho.

Ana Laura e Gabriela acenderam algumas velas e o ambiente ficou mais convidativo. Havia um pano forrando o chão e alguns caixotes espalhados. Sarah olhou para aquilo tudo e gostou do que viu. Sua vida andava tão cheia de problemas e ela precisava tanto de um refúgio... sua consciência mandava ela ir embora dali, entrar em seu carro e dirigir até a sua casa, mas uma parte dizia que ali poderia ser o refúgio que ela tanto queria.

Então, ela decidiu ficar.

Pegou um copo de vinho e se sentou perto de Roger.

Ela levou o copo a boca e bebericou um pouco do líquido roxo. Passando o olho por aqueles adolescentes, sentados no pano que forrava o chão, fazendo um círculo em volta de uma vela ao centro, ela pensou novamente sobre a teoria do seu amigo. Não na parte do medo, mas sim, na parte do erro. Estaria ela errando ao ficar ali?

Ela levou o copo novamente a boca e prometeu a si mesma que esqueceria essas bobeiras e aproveitaria a noite. Afinal, o que de ruim poderia acontecer ali? 

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Chamada: A OrigemOnde histórias criam vida. Descubra agora