E assim, chegamos ao fim

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Patrícia ficou em silêncio.

Uma lágrima escorria pelo seu rosto.

Então era isso.

Como ela não havia desconfiado.

Poderia ter relacionado os nomes.

Sua mãe. O nome de sua mãe.

Larissa.

Larissa Schmitz.

Aquele bebê.

Aquele bebê era ela.

— Patrícia Schmitz. Por sua causa, a maldita da sua mãe arruinou os meus planos. Poderíamos ter fugido. Poderíamos ter uma vida boa. Mas, não. Ela escolheu uma vida boa para você. E se lixou com a minha. Deixou-me mofando na cadeia por dezenove anos. Sabe o que é passar dezenove anos numa cela? Eu te odiei por cada dia passado lá dentro. Eu jurei por mim, por sua tia, que você iria pagar pelo que fez a mim.

— Eu... eu... não consigo...

Patrícia se levantou da cadeira aos prantos. Não queria mais vê-lo. Nunca mais em sua vida. Ele avisara que a verdade poderia doer.

E doía.

Doía porque ela, de certa forma, estava envolvida com tudo isso. Se antes ela se sentia culpada, agora ela tinha motivos reais para isso.

Ela passou pela porta da sala e foi de encontro ao conforto dos braços de sua melhor amiga. Ela só chorou e nada mais.

Ela precisava de um pouco mais de tempo para digerir tudo isso. Para além disso, ela precisava conversar com sua mãe.

Precisava escutar que tudo era mentira e que tudo não passou de uma invenção de Chris.

Mas aquela noite foi selada em quebrar segredos.

E nenhum segredo poderia ser mantido mais.

Larissa confirmou tudo. Contou que aquilo realmente aconteceu e que ela, Patrícia, era fruto de um amor verdadeiro. Um milagre. E por isso, não quis envenenar sua alma pura contando de seu passado.

Ela deveria ter contato tudo no primeiro ataque de Chris contra ela, mas como ele havia sido preso, achou que o passado poderia ficar também por mais um tempo. Mas as coisas se distorceram mais. Uma ação atraiu a outra. No jogo, Patrícia acabou se salvando e fazendo que Lorena fosse morta. Fred, irmão de Lorena, resolver se vingar. E por aí a bola de neve foi só aumentando.

///

O passado. Às vezes é preciso desenterrá-lo. Mesmo que ele seja um pacote que vem acompanhado de dores e verdades nada confortadoras, é preciso conhecê-lo, se quisermos sabermos a origem de algo. Para Patrícia, foi muito doloroso saber de tudo. Cada hora passada naquela sala, ouvindo tudo que o assassino tinha para contar, foi agoniante. Foi torturador, mas no fim, foi algo que valeu a pena. Agora, ela pôde se sentir em paz consigo mesma. O pensamento de "O que eu fiz?" a atormentava tanto.... Agora ela sabe que ela não fez nada além de nascer. E ela não deixaria essa história roubar o encanto que foi o seu nascimento. O milagre que fora sua gestação. Ela saiu se sentindo culpada quando descobriu, mas depois, ela enxergou que o problema não estava com ela. Um bebê não merecia carregar a culpa de algo que acontecera há mais de duas décadas atrás. As pessoas têm que entender que o que acontece no passado, fica por lá. Não adianta carregar mágoas, querer se vingar, odiar alguém por ter feito algo. A vida é feita de presentes. E de presentes devemos nos embebedar. Aproveitar o aqui e o agora. Deixar para lá o que aconteceu. Se perdoar. Perdoar o próximo. Perceber que a vingança é algo que só trás dor e ódio no coração. Larissa se arrependeu amargamente do que fizera. De certa forma, a morte daqueles jovens estava sob seus ombros. E isso era o fardo que ela teria que carregar por ter feito isso. Mas Patrícia, não. Ela não precisava carregar esse fardo. Ela não teve culpa.

Ela nunca teve.

E sabendo disso, agora, ela poderia deixar tudo para trás.

Agora ela poderia seguir em frente.

Não estava mais em dívida com o passado.

Suas origens foram reveladas.

Tudo estava resolvido.

Sendo assim, a história das chamadas finalmente chegou ao fim.

E ela estava feliz com isso.

Chamada: A OrigemOnde histórias criam vida. Descubra agora