Capítulo 14 - Más línguas

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  A última vez em que Rafaela se sentiu assim, ela estava enrolada entre lençóis de algodão e seda

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  A última vez em que Rafaela se sentiu assim, ela estava enrolada entre lençóis de algodão e seda. A última vez em que ela se sentiu assim, não havia nada para cobrir sua humilhação.

  As coisas não eram tão diferentes agora.

  Suas mãos ainda tremiam, as lágrimas derramadas já haviam secado a um bom tempo, mas os olhos permaneciam vermelhos e sem vida. Seus lábios entreabertos pareciam mais secos do que nunca, e sua voz, sempre presente, havia sumido deixando-a à mercê do silêncio. Ela se sentia perdida, e confusa, uma taça de vidro que caiu e se quebrou. Mas uma parte de si, a que se mantinha firme, mesmo que apenas no inconsciente completamente esquecida, estava indignada.

  Quer dizer, como a Ovelha teve coragem de fazer isso? De dizer isso dela? Fofoqueira, era pra rir, ela não era isso, não, de jeito nenhum. Era? Porque para e pensa, ela não fazia algo errado, ela fazia algo bom, informava os colegas das últimas novidades, fazia pessoas apagadas ganharem destaque, mesmo que negativo, e permitia que todos no Colégio estivessem por dentro dos acontecimentos. Isso é bom. Não é?

  Se não fosse por ela ninguém saberia que a garota do primeiro ano estava grávida, que o menino do cabelo de gel era maluco por tomar remédio controlado, e que mais um jogador do time de futebol estava traindo sua namorada. Ninguém saberia que a família daquela garota platinada faliu, nem que o pai do problemático foi preso, muito menos estariam atualizados todos os dias sobre o estado de Paulinha. Estariam todos na escuridão, na mais completa ignorância.

  Por outro lado, se não fosse por ela a garota do primeiro ano não seria chamada de puta, vagabunda, aquela que abre as pernas pra qualquer um. O garoto do cabelo de gel, que apenas tenta controlar sua ansiedade, não seria ridicularizado todos os dias e preso em uma camisa de força pelos colegas. A namorada traída não seria chamada de chifruda, não estaria caindo em depressão, quando na verdade tudo não passou de um mal entendido, e o jogador só estivesse ajudando um amigo. Ninguém faria gracinhas com a menina platinada, porque sua família perdeu todo o dinheiro em cirurgias e tratamentos para a sua mãe que estava doente. Ou ameaçaria o garoto problemático por julgar que ele era igual ao seu pai, que nunca sequer havia se importado com sua existência. Eles também não estariam atualizados sobre o estado de Paulinha, que semanas atrás era a leitoa gorda e nojenta.

  Se não fosse por ela nada disso seria possível, mas graças a ela todos estavam ainda mais na ignorância.

  A verdade é que a ruiva tinha um olhar de águia, mas não queria enxergar, uma língua fluente, mas não falava o que importa. Ela não aceitava a coluna porque no fundo sabia que estava certa, sabia que aquilo que fazia talvez não fosse tão bom quanto ela achava. Ela sabia, porém não queria aceitar.

  Rafaela queria gritar, mas ainda não tinha voz. Queria chorar, mas as lágrimas haviam desaparecido. Queria correr, mas suas pernas não obedeceriam. Entretanto, o que ela mais queria mesmo, era sumir. Queria se meter na própria cama, em uma quarto trancado e inacessível, e ficar ali até a poeira baixar, só que isso não seria possível, até porque, ela havia tentado um ano antes, e não havia dado certo.

Ovelha Negra [Completa]Onde histórias criam vida. Descubra agora