Capítulo 38 - Tudo que vai, volta

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Vai ficar bem, é só uma fase

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Vai ficar bem, é só uma fase.
Você vai ficar bem, isso vai passar.
Não se preocupe, está tudo bem.

   Marina repetia aquelas palavras pra si mesma várias vezes, mas não importava o quanto fizesse isso, ela não parecia escutar, ou pelo menos não acreditava. Ser exposta pela Ovelha Negra foi uma surpresa, mais surpresa do que isso só o motivo da exposição. A Ovelha também sabia, assim como Rafaela, assim como ela própria, a Ovelha sabia o que Marina fazia a si mesma em momentos de perturbação. E agora, qualquer pessoa naquela escola que fosse inteligente também saberia.

  Mas ela não estava errada certo? A Ovelha. Porque ao ler, Marina quis duvidar, buscou nas suas memórias qualquer sinal de que aquilo fosse mentira, mas não se lembrava, porque não havia. Ela não sabia dizer não. Tudo que lhe pediam, ela fazia, ela dava, ela ajudava, ela era incapaz de negar algo a alguém porque queria ver a pessoa feliz. Ela queria ver todos felizes. Mas e ela mesma? Quando que ela ficava feliz?

   A boa garota até tentou argumentar que sempre, que a felicidade dos outros era a dela própria, mas não era bem assim. Pra isso as suas memórias lhe serviram muito bem. Ela se lembrava do ensino fundamental, quando todos marcaram de ir ao cinema, mas havia um trabalho a ser feito para o dia seguinte, seus compahaneiros jogaram charme, argumentaram que ela era a mais capacitada, a melhor entre eles, a mais inteligente, e que no fim ela nem gostaria daquele filme mesmo. Tudo para que a garota fizesse o tal trabalho sozinha. Ela queria discordar, mas quando eles lhe pediram para fazer porque queriam muito ir, e sorriam durante o pedido, planejando com aqueles olhares sonhadores o programa. Ela não soube dizer não.

  Então lá ficou a pequena Marina, dormindo altas horas da madrugada depois de fazer o trabalho inteiro sozinha, vendo as fotos e comentários de como a noite havia sido divertida. Ela queria ter ido, queria ter se negado a ser a única a cuidar de tudo aquilo, mas fez o possível para manipular a si própria e fazê-la acreditar no que eles haviam dito, que ela era a melhor, a mais capacitada, que não gostaria do programa. Ela acreditou, ou fingiu que sim, porque no fundo, mesmo que todos tivessem ficado felizes com o arranjo, ela não estava.

  Também haviam as vezes em que ela não era diretamente a prejudicada, ou pelo menos não a única infeliz. Um exemplo foi aquela mesma festa que lhe veio a mente após a exposição Rafaela, a festa em que ela indicou a Aurora onde ficava o banheiro enquanto os colegas as gargalhadas arrastavam Paula até lá. A festa em que ela não fez nada para evitar aquilo. Era sua casa, sua festa, sua decisão, e ela disse sim. Mais uma vez. Naquele arranjo ela disse a si mesma que todos estavam felizes, eles riam da brincadeira, pareciam se divertir. O problema é que da outra vez a diversão havia sido às custas dela, agora era às custas de Paulinha. Ela não ficou feliz porque sua consciência gritava que aquilo era errado, gritava o que ela deveria ter dito, ou feito, mas ela se negou a escutar.

  Sem contar da vez em que ela concordou em ceder a verba do grêmio para uma festa de integração. Seus colegas disseram que aquilo também fazia parte da sua responsabilidade, integrar os alunos, que o dinheiro seria bem gasto em um evento para todos do Órion, que seria organizado, que todos ficariam felizes. Ela disse sim, outra vez. Marina sabia que estava cometendo um erro, mas resolveu dar um voto de confiança aos amigos, Rafaela era uma das organizadoras do tal evento, ela tinha que confiar. Não houve integração. Houve sim uma festa, reservada aos famosos e quem eles aceitavam, o que era um grupo bem restrito, o que não incluía todos os alunos como havia sido dito que seria. Eles gastaram o dinheiro com que ela promoveria um evento verdadeiro de integração, o dinheiro que ela havia lutado para que o diretor liberasse, lutado para que ela própria arrecadasse boa parte, o dinheiro que estava na sua responsabilidade. Eles compraram bebidas, mais bebidas, algumas comidas, pagaram um DJ. Eles estavam felizes, os outros alunos que haviam sido excluídos não, a líder do grêmio não. Mas ela havia dito sim.

Ovelha Negra [Completa]Onde histórias criam vida. Descubra agora