Paula abriu os olhos lentamente, havia aproveitado o clima agradável pra tirar um cochilo e descansar, bem, mais ou menos isso. Ela estava no hospital, estava lá há semanas, e mesmo que tivesse passado a maior parte do tempo em coma, ainda assim, ela já não aguentava mais ficar ali. Não tinha nada pra fazer além de observar a parede branca sem graça, as janelas que só exibiam o céu, ou ficar atenta ao silêncio.
Fala sério, ela já havia decorado os horários seus e do paciente vizinho, em dez minutos por exemplo, a enfermeira traria seu almoço, em quinze sua mãe retornaria da capela onde orava todas as tardes pela vida da filha. Em vinte minutos o cara do quarto ao lado ligaria a tv, em vinte e cinco a enfermeira levaria a alimentação dele. Talvez, se ela tivesse sorte, o médico viesse lhe conceder alta ainda hoje, ela só queria voltar pra casa.
Só que, ao lembrar de casa Paula também se lembrava do porque queria se esconder no hospital pra sempre, porque queria nunca mais sair. A escola, seus colegas, Aurora. As vezes ela tinha um pesadelo com a garota, seus belos cabelos, olhos, e sorriso bem a sua frente, depois ao seu lado, então atrás, cercando-a, sufocando-a, então ela acordava sobressaltada.
Paulinha nunca entendeu o que fez, ou como isso começou. Talvez no ensino fundamental, quando mudava de escola com frequência. Não importava para onde fosse, ela era sempre o alvo. Gorda, balofa, botijão de gás, balão de ar, rolha de poço, bola, leitoa, ela poderia ficar dias listando, aí vinha ainda feia, esquisita, excluída, otaria, perdedora, idiota e... e muitos outros. Ela já havia recebido tantas denominações ao longo dos anos, havia sido tão humilhada, rechaçada, passado por tanto, que não achou que fosse possível piorar.
Foi quando ela foi matriculada no Órion, para fazer o ensino médio, e entrou no caminho dos famosos, no caminho dela.
Aurora era tudo que Paula não era, magra, bonita, inteligente, carismática, perfeita em todos os sentidos. Ela simplesmente não parecia ter defeitos, parecia intransponível, inabalável, maravilhosa. Ela era tudo que a leitoa quis ser, mas nunca seria. Então, como sempre acontecia, Paula virou o alvo, o problema é que ela se tornou o alvo preferido daquela que era adorada por todos, amada, invejada, ela virou o alvo da abelha rainha, e essa foi sua sentença de morte.
Se iniciaram com brincadeiras, apelidos, humilhações básicas, nada que já não tivesse aguentado constantemente até ali. Se ela pensou em contar para sua mãe? Bem, ela já havia feito isso antes, várias vezes, e Márcia ficava tão preocupada que era de partir o coração. Sem contar que agora ela era uma adolescente, estava no ensino médio, era hora de ser forte e superar aquilo, aguentar tudo sozinha, o problema é que ela não era capaz. Ninguém seria em seu lugar.
Paulinha ficou em silêncio porque não queria causar mais problemas, porque achou que fosse conseguir, porque tinha medo que as coisas piorassem caso ela falasse algo. Paulinha não contou pra ninguém porque achou que uma hora eles se cansariam, ou que seria um atestado de fraqueza pedir ajuda. A gota d'água foi a manhã no refeitório, Paula sabia que ter acidentalmente derrubado suco no uniforme impecável da abelha rainha lhe renderia um castigo, mas quando ela foi de encontro ao chão e mergulhou na comida percebeu algo desvastador.
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Ovelha Negra [Completa]
Teen FictionO Colégio Órion é conhecido pelo alto nível intelectual de seus estudantes, pelo grande talento que eles possuem em Campo, e pelos rostos bonitos e de boa conduta. O que ninguém conhece sobre o Colégio Órion, é quem realmente estuda lá, porque por t...