Ovelha Negra [Completa]

Capítulo 7 - Ainda em Campo

   Uma completa bagunça! Era assim que o Colégio Órion se encontrava no momento. Os alunos ocupavam os corredores em bloquinhos, dos mais excluídos aos mais populares, mas pela primeira vez com o assunto em comum: a última aparição da Ovelha Negra, a famigerada coluna do jornal que em pouco tempo já havia ameaçado as pessoas mais influentes da escola. Algo que ninguém nunca havia tido coragem de fazer antes.

  Mesmo sem entender exatamente o que ela dizia, todos se esforçavam, como nunca haviam feito com qualquer outra coisa, em desfazer os hipérbatos noticiados, descobrir os segredos por trás das palavras ferinas. Porque afinal de contas, para a Ovelha o interessante era plantar a semente da discórdia, semear cabia aos leitores. E eles estavam se mostrando bons agricultores.

  É fato que a união faz a força, e unindo um bom fofoqueiro, uma pessoa de boa memória, e outra disposta a pensar e ligar os pontos, "touché", mistério resolvido. Segredo revelado. E assim como o desejo da Ovelha, não só ela, mas todos sabiam o que Vinícius havia feito. Todos procuravam pelo garoto ou por Kara. Várias perguntas na ponta da língua esperando a oportunidade para serem feitas, mas ela não chegaria. A menos que algum corajoso, ou no caso suicida, se atravesse a perguntar algo sobre o caso para um dos envolvidos, para em seguida espalhar pelos corredores as últimas notícias.

  E com últimas notícias não podemos deixar de destacar o fim da coluna, um simples trecho que entregava tudo o que estiveram se perguntando. E Aurora não percebeu de imediato, talvez porque tivesse levado um bom tempo para entender toda aquela movimentação nos corredores, afinal de contas, ela ainda estava aguardando o diretor na sala de espera. Mas quando saiu, ah, é claro que ela não deixou de notar os milhares de panfletos espalhados em todo o lugar. E teve medo. Medo de que fosse novamente acusada, medo de que sua situação se tornasse ainda pior diante do olhar alheio mas, ao se deparar com aquele maldito nome uma onda de camaria atravessou seu corpo, acompanhada é claro da tensão ao constatar que mesmo indiretamente ela ainda estava envolvida. Mesmo que nem todos soubessem disso.

_Kara -murmurou sem perceber, a voz tão baixa que sequer ela foi capaz de ouvir.

  É claro que se lembraria da amiga. Ela provavelmente já havia lido e nesse exato momento estaria surtando em algum lugar. Aurora tinha de encontrá-la. A garota saiu em disparada ignorando uma das secretárias da diretoria que chamava seu nome, passou esbarrando por alguns colegas e se viu perdida em um labirinto de alunos, todos comentando, todos especulando. Kara e Vinícius. Mas ninguém sabia. Kara, Vinícius e Aurora. Virou a direita assim que teve a oportunidade e se lembrou, o único lugar onde não a procurariam agora: o banheiro.

  Seguiu até encontrar a placa de identificação e entrou, silenciosa no caminhar ela olhava para o chão a procura de um sinal. Atoa, pois Kara não deixaria os pés a mostra, não quando estava se escondendo. Teria, no mínimo, subido em um dos vasos. Pensou em chamá-la pelo nome mas corria o risco de alguma outra garota estar por ali e escutar, ela não queria chamar atenção para a amiga. Quando estava a ponto de pensar em outra alternativa escutou o que parecia ser um barulho de lágrimas, na última cabine.