Capítulo 62

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Alfonso

A enfermeira entra no quarto e sei que é hora de ir embora. Acaricio a mão da minha namorada e beijo sua palma. Ao todo fazem dez dias que ela está aqui.

Dez dias que o Miguel nasceu.

Dez dias que não sei o que é dormir numa cama de verdade.

Dez dias que estou vivendo dentro desse hospital.

Dez dias que escuto todo mundo me dizer que isso não é saudável, que eu preciso ir pra casa.

Dez dias que digo a todos eles, o tempo todo, que não vou pisar naquele apartamento sem minha namorada e sem o nosso filho.

Dez dias nesse verdadeiro inferno, que não parecem dez dias, mas dez anos.

Beijo a testa de Anahí e sussurro mais uma vez que a amo e peço que ela volte pra gente. Saio do quarto, olhando pra ela uma última vez, com esperanças dela abrir os olhos e sussurrar o meu nome como nos livros. Mas infelizmente não estamos dentro de um livro, então ela não acorda e muito menos me chama.

Assim que chego no corredor o médico que está cuidando dela se aproxima junto com uma enfermeira. Todo meu corpo entra em estado de alerta.

- Queremos falar com você sobre sua namorada. - ele avisa.

- O que aconteceu? Ela piorou? - pergunto com medo.

- Pelo contrário. O quadro dela estabilizou, ela está fora de perigo e vai pro quarto hoje mesmo.

- Sério? Mas e o coma?

- O coma está persistindo sem mudanças, mas pelo menos ela não está piorando.

- E no quarto, você poderá ficar o dia todo com ela, inclusive dormir no quarto, ao invés de cadeiras. - a enfermeira completa e sorri pra mim.

- Graças a Deus. - suspiro aliviado.

- Alfonso, sei que tem se recusado a ir pra casa e que não sai desse hospital desde que entrou aqui, mas acho que sua temporada aqui será forçada a ser terminada. - o médico sorri.

- O que quer dizer com isso?

- Seu filho, Miguel, está completamente fora de perigo. Há 12 horas ele está respirando sozinho, sem ajuda de nenhum aparelho. Todos os seus órgãos estão funcionando perfeitamente, ele não precisa mais ser alimentado por sonda. Vamos começar a amamentá-lo com o leite materno que temos armazenado aqui e se tudo correr bem pelas próximas 48 horas, ele vai receber alta e poderá ir pra casa com você.

- Dois dias e o Miguel vai poder ir pra casa? - pergunto confuso.

- Sim e recebendo alta ele não pode permanecer aqui, então você terá que ir pra casa com ele.

- Não, mas... E a Any?

- Continuaremos fazendo de tudo por ela Alfonso. Mas no momento depende muito mais dela acordar, do que da gente. - ele responde tranquilamente.

- Entendi. - aceno com a cabeça.

Os dois dão sorrisos amigáveis e condescendentes antes de seguirem pelo corredor e me deixarem sozinho. Passo a mão pelo cabelo, sem saber o que fazer. É fácil ficar aqui no hospital, quando os dois estão aqui, prometi pra mim mesmo que não sairia daqui sem os dois e agora um deles está prestes a ir pra casa.



Lila

Mais de dois meses evitando Ethan e eu tinha ficado boa nisso, mas não fui boa o bastante pra evitá-lo hoje. Como vocalista da banda, ele não costuma estar aqui logo após o almoço, mas hoje dei o azar de aparecer e ele ainda estar de plantão.

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