Coney Island

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CORRER ERA UM pé no saco.

Eu sabia que tinha que fazer exercícios para evitar o que estava acontecendo agora. Mas é claro que eu me recusava a fazer.

Preferi ver o garoto loiro cruzar a rua, virar a esquerda e sumir da minha vista, enquanto eu fiquei parado, respirando fundo e com as mãos na costela esquerda, que explodia de dor.

Amaldiçoei a feiticeira várias vezes, enquanto me sentava na calçada igual um morador de rua.

Respirei fundo, olhando para a tempestade que se aproximava. Acho que não iria demorar muito para cair uma nevasca.

Fiquei sentado na neve, encarando as ruas vazias do Queens, tentando respirar normalmente. Meus olhos não se desviavam das decorações de Natal em uma casa a frente.

Suspirei, massageando a área das minhas costelas. Se eu voltasse para ela sem ninguém era óbvio que ela me mataria, ou iria me punir com alguma transformação muito horrível.

Praguejei, incapaz de me levantar pelo frio incapacitante que fazia.

Senti uma respiração forte na minha bochecha e me virei, dando de cara com uma leoa enorme e com o pêlo brilhante. Quase caí para trás, tentando me afastar.

A leoa passou a língua pelos dentes brilhantes e pontudos, seus olhos estavam faiscando quando abriu a boca em uma posição estranha e começou a falar com uma voz arrepiante feminina.

- Você ainda é fraco demais. - a leoa disse. - O semideus está escapando, seu pateta!

- Ah, C. C.? - questionei, aproximando meu rosto um pouco. - É você?

A leoa rangeu os dentes, furiosa.

- Não, estúpido! Ela me mandou aqui! Você não consegue fazer nada sozinho! - ela ergueu uma pata, apontando para a esquerda da rua. - Vá capturá-lo!

Eu ainda não entendia o que a feiticeira queria com aquele garoto, ele parecia ser bem patético.

Levantei, batendo as mãos para tirar a neve da jaqueta. Olhei para a leoa que apontou com mais insistência para o fim da rua e corri na direção. Senti o animal me acompanhar e torci para que nenhum mortal estivesse vendo o que eu estava.

Assim que cruzei a rua, cheguei em outra com diversos becos e restaurantes pouco convidativos. Olhei para a leoa de novo e ela apontou com o focinho para uma floricultura encardida e quase invisível.

Era ótimo ter um GPS vivo.

Corri na direção da floricultura, empurrando a porta de vidro lentamente que já estava arrombada. Por dentro não parecia haver ninguém, estava tudo meio escuro e desbotado, e claro, havia plantas de todos os tipos em cada centímetro do lugar.

- Tome cuidado. - a leoa murmurou para mim, estalando a mandíbula. - Vai ser difícil combater ele nesse lugar.

Por um minuto, fiquei apenas escutando. O lugar estava inteiramente silencioso, não havia pegadas no chão, muito menos qualquer resquício que alguém havia pisado ali.

- Ele está aqui mesmo? - perguntei. Minha voz ecoando por todo o ambiente.

- Sim. Dá para sentir o cheiro. - minha companheira passou a língua pelos dentes mais uma vez, como se estivesse querendo muito um jantar.

Me aproximei de uma mesa com diversos cactos e bati a mão forte na mesa, o que eu esperava que chamasse a atenção do garoto.

- Ei... hã, eu odeio esconde-esconde, então se você estiver aí, apareça logo. Por favor, vai ser mais fácil.

Flecha do Destino (PJO/HDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora