Inevitabilidade

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AS COISAS FICAVAM mais difíceis a cada hora que se passava. Tudo ficava mais complicado, a cada segundo eu ia me envolvendo mais com aquele lugar e ele me prendia mais.

Eu contava os minutos com os dedos enquanto estava deitado naquela cama dura e áspera, mas a cada grito de alguma pessoa eu me perdia na contagem e me apertava nos cobertores.

Eu já havia ido para vários lugares estranhos quando viajava nas sombras, como quando fui parar no "Fly Geyser" em Nevada e acabei conhecendo deuses dos gêiseres nada agradáveis. Ou quando fui parar no Havaí e nas Filipinas. Mas, nunca uma clínica psiquiátrica.

Aquilo era totalmente novo e assustador.

O quarto era encardido assim como o resto daquela clínica. Era bem pequeno e só cabia a cama nele, havia apenas um banheiro e uma veneziana com grades de aço. Ao menos eu conseguia abrir e enxergar através das barras de aço o jardim em completa escuridão.

Por um breve segundo, eu senti vontade de pedir ajuda para alguém. De abrir a boca e gritar, de ter alguma ajuda, mas não havia ninguém que iria me ajudar.

Senti um vazio em mim que não podia ser reprimido, tão grande e complexo que resolvi balançar a cabeça e esquecer, me odiando por ficar pensando em trivialidades. Eu não tinha tempo para isso. Eu tinha que fugir. Por conta própria.

Eu acho que era de madrugada quando eu escutei a porta sendo aberta às pressas por alguém. Meus olhos arderam na claridade do corredor. Olhei para a pessoa parada na frente da porta e novamente era aquela garota esquisita.

Cassie olhou pelos dois lados do corredor e me lançou um olhar rápido, antes de desviar.

- Vem, antes que eles nos peguem.

Me sentindo como um cãozinho perdido, eu a segui, sendo praticamente carregado por ela novamente. E eu me sentia cada vez mais idiota.

Cassie me guiou por corredores, salas de psiquiatras e psicólogos, passamos por uma ala em que eu vi crianças dormindo tranquilamente, passamos abaixados por uma em que havia um enfermeiro sentado em um sofá assistindo a TV, e finalmente atravessamos uma porta que nos levou a uma estufa de vidro do lado de fora.

Agora eu sabia onde estavam as plantas e flores. Dispostas em mesas, vasos, pedestais e ganchos de ferro. O lugar transmitia um calor abafado e um cheiro de inseticida.

Saímos da estufa, sendo jogados no frio novamente e andamos pela neve, do lado externo da clínica. Cassie sempre me apoiando com os braços, porque eu ainda não conseguia andar sozinho, a dor era intensa demais. Eu queria ter achado algo para dizer a ela, mas não consegui e ela não parecia querer conversar. Mesmo assim, tentei.

- Por que estamos aqui? - perguntei, tropeçando em uma inclinação na colina.

Ela se virou, apenas para dar aquele seu sorriso triste de novo.

- Qual é, você iria surtar ficando lá dentro. - ela disse, passando a mão nos cabelos. - O primeiro dia é sempre o mais difícil... ainda mais para quem nem faz parte daqui.

Percebi que ela estava tentando me levar ao assunto anterior novamente.

- Ei, escuta... a quanto tempo você está aqui?

Ela não respondeu de imediato, após algum tempo, suspirou.

- Anos.

- Uau, você é uma veterana. - eu disse e depois de ver a sua feição de ironia me arrependi de ter dito.

- É claro, porque eu amo esse lugar e todo ano quero estar aqui. - ela sorriu. - É como um acampamento. Muito maravilhoso!

- Foi mal. - eu dei de ombros. - Mas é que você... você realmente não fala sozinha ou, bom... ou cola fotos dos seus netos na sua roupa. Você está louca mesmo?

Flecha do Destino (PJO/HDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora