- VOCÊ DORME COMO uma pessoa que já faleceu.
Foi a primeira coisa que eu ouvi quando abri os meus olhos. Eu estava completamente desorientado. Eu ia voltar a dormir quando a voz falou novamente, me recobrando aos sentidos.
- Ei, não dorme de novo. - a pessoa bateu na minha perna. - Seria um saco se eles pegassem você aqui. Você seria mandado para uma terapia imediatamente.
A dor rapidamente me acordou. Eu já estava acostumado a ser acordado por monstros segundos antes de eles me matarem. Já estava acostumado a não entender a maioria das coisas que eles falavam também. Confuso.
Minha respiração vacilou. Eu me afastei, mas não sabia onde estava a coisa que me acordou, nem para que lado era a saída. Estava muito escuro ou a minha visão ainda estava ruim? Talvez as duas coisas.
Apertei a visão e vi somente olhos azuis na escuridão. Azuis cinzentos, como a cor do mar antes de uma tempestade.
Tempestade.
De repente, as lembranças do que aconteceu vieram tão rápidas que me acertaram com flashes. Eu não tentei me levantar, eu já sabia o que tinha acontecido com a minha perna e com a minha garganta também. Praticamente, eu estava todo fodido.
Clic.
Antes que eu refletisse mais sobre o meu estado precário, a luz invadiu a sala. Fiquei cego por poucos segundos até piscar e me acostumar com o que eu estava vendo.
Era uma sala pequena e encardida, cheia de coisas de limpeza e outras coisas que não consegui lembrar o que era. Acho que, pelas caixas e coisas empoeiradas, e inúteis, era um depósito.
Me concentrei na pessoa moribunda em pé, perto do interruptor. Era uma garota.
Primeiro, eu imaginei que ela fosse uma mendiga, mas ela era limpa demais para ser uma mendiga, depois eu imaginei que ela provavelmente fosse um monstro. Eu tentei me afastar dela, me arrastando, mas eu já estava no canto da sala.
Ela acompanhou o meu medo, mas não fez nenhuma menção de se aproximar. Ela abriu e fechou a boca várias vezes até dizer:
- Sabe, quando eu entrei aqui e você estava sangrando, por um único segundo, eu pensei que você tinha virado mocinha...
Ela falou aquilo tão baixo que eu precisei de alguns segundos para adivinhar o que ela havia falado.
- Aí eu vi o corte. - ela completou.
Ela ficou me olhando, sem me dizer mais nada, e eu não conseguia achar nada para dizer a ela. Eu estava bem confuso. Monstro ou não? Lembrei do último outono, na Pensilvânia, quando tive que buscar um livro para completar a biblioteca de Circe. Eu fora completamente enganado pelas empousai achando que elas eram pessoas normais. A garota se parecia muito com elas... antes delas virarem monstros, claro.
- Foi uma piada. - ela continuou.
Dei de ombros, com certa desconfiança.
- Eu sei... eu entendi.
- Não parece, - ela disse, com o queixo erguido e a expressão em completa arrogância. - porque você não está rindo da minha piada incrivelmente engraçada.
- Não foi engraçada. - eu sussurrei tão baixo que mal eu consegui ouvir.
Mesmo assim, ela conseguiu ouvir e continuou insistindo.
- Foi sim. Como eu disse e estou repetindo, incrivelmente engraçada.
Ela se sentou do meu lado depois de perceber que eu não iria falar nada. Nós ficamos ali, sentados, olhando para a parede, em silêncio.
![](https://img.wattpad.com/cover/103824402-288-k172718.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Flecha do Destino (PJO/HDO)
FanfictionCharlie era um semideus e ele já sabia disso o tempo todo. Não teve tempo para drama semideusístico. Então, ele teve que fugir. A feiticeira prometeu ajudar a resolver o seu problema e ele acreditou. Mesmo que Circe não fosse uma heroína. Mas, Charl...