EU GOSTAVA DO silêncio. Adorava quando as pessoas ao meu redor simplesmente calavam a boca e tudo ficava em um silêncio absoluto.
Eu não conseguia pensar quando as pessoas falavam ou faziam barulho, era sufocante.
Mas havia aqueles silêncios desconfortáveis em que você sabe que precisa dizer algo, mas não encontra palavras, mesmo que force o seu cérebro o máximo possível, é meio que um bloqueio estranho.
Era exatamente isso o que acontecia enquanto eu dirigia pelas ruas sinuosas e deslizantes da Filadélfia, nosso objetivo era chegar até o centro da cidade para assim, decidir o que fazer.
Depois que toda aquela adrenalina passou, Cassie ficou quieta no banco ao meu lado, olhando distraidamente para aquela imensidão branca.
Eu não conseguia me sentir em paz no carro da enfermeira Leslie, a cada olhada no carro, lembranças vívidas do que eu fiz a ela me atacaram. Em um momento, abri a gaveta do meu lado e vi algumas fotos de um casal com uma menina pequena e um adolescente. A enfermeira estava sorrindo na foto, enquanto beijava a testa da menina.
Precisei parar o carro por vários minutos para me recuperar. E fiquei olhando para colinas brancas, escondidas entre os pinheiros.
Ela não merecia aquilo. Era tudo minha culpa.
Senti um enjoo e ânsia. As lembranças iam e voltavam. Eu fiz aquilo. Eu a machuquei. Uma mortal que não tinha feito absolutamente para mim.
Eu só consegui me recuperar quando Cassie desceu do carro e se aproximou lentamente de mim.
— Eles morreram, Charlie. — disse Cassie, lentamente, colocando uma mão no meu ombro. — A Sra. Leslie me contou, uma vez. Acidente de carro, foi nesse carro. Eles consertaram, porém a Sra. Leslie continua odiando esse carro, por isso decidi pegar justo ele. Desculpe por ter feito você fazer isso.
Senti que ela estava tentando amenizar, mas não era justo. Lembrei exatamente do que ela disse de madrugada: “pelo bem maior”.
— O fim não justifica os meios. — eu disse, tentando controlar a respiração e o estômago. — Nunca vai justificar.
Você não pode falar sobre isso. Uma voz sussurrou na minha cabeça. Está fazendo o mesmo pela feiticeira.
— É, eu sei. Foi mal. — ela não parecia estar levando tão a sério como eu. — A Sra. Leslie vai ficar bem, você não matou ela, certo?
— Mas eu machuquei ela. — coloquei uma mão na têmpora. A culpa era uma facada fria e violenta no estômago. — Eu a machuquei.
Não somente ela. Uma voz gritou em minha cabeça. Não somente ela.
Cassie jogou um pouco de neve com os pés para longe e olhou para a estrada vazia. Ela olhou na direção em que viemos.
— Olha, depois vamos ter tempo para todo esse drama. — Cassie, suavizou, apertando um pouco o meu ombro. — Agora, nós temos que sair dessa estrada. Talvez comer. Eu preciso me limpar, trocar as roupas e você também. Certo?
Ela não sabia o quanto estava errada. Não iríamos ter tempo algum.
Concordei com a cabeça, ainda sentindo a faca invisível, que era a culpa, cravada no meu estômago.
Voltamos ao carro, olhei para a foto de novo e Cassie seguiu meu olhar. Ela escondeu a foto pelo carro e suspirou.
— Dirija. Apenas dirija.
Concordei, ligando o carro e enfiando o pé no acelerador.
Após algum tempo, na estrada, passamos por casas e prédios. A clínica não era tão afastada assim da cidade.
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Flecha do Destino (PJO/HDO)
Fiksi PenggemarCharlie era um semideus e ele já sabia disso o tempo todo. Não teve tempo para drama semideusístico. Então, ele teve que fugir. A feiticeira prometeu ajudar a resolver o seu problema e ele acreditou. Mesmo que Circe não fosse uma heroína. Mas, Charl...