Pandemônio

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SIM, TUDO O QUE aconteceu depois foi culpa minha.

Sim, o acampamento continuava muito bonito, mesmo no inverno. Nem preciso falar que Cassie o declarou como o melhor lugar que já pisou na terra assim que botou os olhos através da colina, nem dar muitas declarações sobre o dragão tentando me atacar quando me aproximei muito perto do velocino de ouro e que vieram alguns grupinhos de campistas parabenizar a missão concluída de Calvin. Ficaram realmente muito empolgados quando eles voltaram e muito curiosos a respeito de Cassie eu.

Não os culpo, nós parecíamos vítimas do Assassino da Serra Elétrica que de alguma forma haviam conseguido escapar. Nós estávamos fedendo, manchados de sangue e icor, feridos psicologicamente e fisicamente e totalmente exaustos. Senti vontade de cair no chão e só levantar três anos depois, mas não pude.

O trio nos guiou até a aquela casa de fazenda que eu me lembrava. Eles disseram que deveríamos falar com Quíron e nos apresentar. Eu dispensaria isso por um dia inteiro dormindo, eu não precisava falar com aquele centauro idiota novamente.

— Como ele é? — Cassie me questionou. Ela parecia nervosa. A luz da lua deixava seus machucados no rosto parecerem piores.

— Bom... metade cavalo e metade humano, sabe? — eu declarei, muito exausto até para abrir a boca.

Me joguei em uma cadeira de balanço que havia na varanda da casa e apenas observei por alguns minutos.

Eles haviam deixado entrar neve, mesmo com aquilo de mudar a temperatura ao seu gosto. Foi um erro bem claro para mim. Os arbustos de morangos estavam cobertos por neve e fora da estação, o que era uma pena, eu até gostava um pouquinho do cheiro. O lago de canoagem estava congelado, o que foi uma surpresa para mim, me perguntei como as náiades estavam lidando com aquilo. Haviam mais chalés do que da última vez e algumas construções que se assemelhavam a templos.

A maioria das pessoas estavam em volta de uma fogueira, conversando e se aquecendo do frio. Haviam mais campistas do que o último inverno que estive ali, todos pareciam carregar um clima tenso e cansado, o que era estranho. Gaia estava dormindo como a Bela Adormecida, Cronos estava dividido em tantos pedaços no Tártaro quanto as estrelas no céu. Então... qual era o problema?

— Vocês chegaram bem tarde. — uma voz mansa exclamou na entrada da casa. — Mas fico feliz que conseguiram. Espero que estejam bem.

Saí do meu torpor e me virei para a inconfundível voz do centauro. Ele estava a mesma coisa, contando com algumas ressalvas. Estava com o rosto mais abatido, tinha mais alguns fios de cabelo branco na cabeça e barba. Ao seu lado estava uma garota, usando uma camiseta roxa, jeans e uma jaqueta jeans. Ela tinha um olhar desconfiado, notei somente seu único brinco, na orelha esquerda, feito com uma pena azul e logo após voltei a olhar para o híbrido.

Assim que o centauro me viu, sua expressão de felicidade murchou e foi tomada pela de descontentamento.

— Ah, você de novo... — ele pareceu incerto de se aproximar, mas após um tempo o fez, focando sua atenção em mim. — Como vai, Charlie?

Olhei para mim mesmo e voltei a olhar para ele, estendendo os braços em ironia.

— Melhor, impossível. — sorri.

— Você não veio para nos roubar novamente, veio? — ele foi direto. Não estava mais tão gentil como da última vez. — Digo, você deve se lembrar do nosso estoque de ambrosia e néctar que misteriosamente depareceu assim que você fugiu.

Cassie e a garota passaram a me encarar, franzindo as sobrancelhas.

— Não tenho nada a ver com isso. — murmurei, virando o rosto para encarar a paisagem do acampamento.

Flecha do Destino (PJO/HDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora