Trem

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Estava começando a anoitecer quando chegamos no centro da Filadélfia. Estacionei o carro em um beco escuro e apertado. Assim que saímos senti um cheiro forte de urina e lixo podre. Torci o nariz.

— Por que paramos aqui? — Cassie questionou, olhando ao redor.

— A gasolina vai acabar daqui a pouco. A essa altura a enfermeira já deve ter notado que seu carro desapareceu e a polícia vai vir atrás dele. Eles, provavelmente, vão ligar o sumiço do carro com a nossa fuga... e, bom... precisamos trocar de roupa antes de embarcarmos no trem.

— Trem? Nós vamos de trem? — ela perguntou.

— Tudo bem por você? — perguntei, suspirando. — Se você não quiser ir no seu jatinho particular, é claro.

Ela apontou um dedo para mim, sentindo a ironia e deu de ombros.

— Tanto faz, mas não vão me identificar do noticiário?

— Vamos torcer para que isso não aconteça, ok? — comecei a andar na direção da saída do beco. — Se tivermos sorte, ninguém vai dar atenção.

Saímos do beco fedido e entramos em uma loja de $1,99 que estava cheia de roupas usadas e desgastadas penduradas nas paredes internas. Senti um cheiro de alvejante impregnado no lugar assim que entrei.

Vi um crucifixo meio torto onde ficava o caixa. No balcão do caixa tinha uma imagem de Jesus com várias ovelhas atrás.

Fofo.

Cassie se afastou rapidamente para olhar algumas roupas, acho que assim como eu, ela estava louca para vestir roupas decentes. Graças aos deuses, os funcionários da lojinha ignoraram o nosso estado e nenhum pareceu nos reconhecer de lugar algum. O que foi um alívio.

Me apressei e vesti uma camiseta cinza e uma calça jeans escura desbotada. Esperei pacientemente enquanto Cassie enrolava no trocador ao lado. Após algum tempo ela saiu, vestida com uma calça jeans rasgada na altura da coxa, uma camisa preta desbotada e um casaco xadrez vermelho com uma manga meio rasgada.

— E aí? — ela perguntou, parecendo preocupada. — Acha que dá para se disfarçar?

Balancei a cabeça, negando. Na verdade, o rosto dela era bem fácil de identificar. Aquele tipo de rosto que você olha e não consegue esquecer. Mudar as roupas não ia alterar muita coisa.

—É que você não tem, hã... um rosto comum. Você deveria pelo menos mudar o cabelo.

A garota pegou um daqueles negócios de prender o cabelo e o prendeu em um rabo de cavalo. Ela se olhou no espelho pequeno que havia entre os trocadores e torceu o rosto.

— Eu deveria pintar meu cabelo. — ela comentou. — Agora as marcas no meu rosto estão mais... evidenciadas. Meu deus, eu quero arrancar fora o meu rosto.

As marcas estavam em clara evidência mesmo.

Olhei para o lado e vi um homem gordo, vestindo uma camisa social azul e um crachá que dizia: gerente. Ele nos olhava, cerrando os olhos. Se aproximando a passos curtos.

— Não temos tempo. — murmurei.

Assim que o gerente se aproximou, forcei um sorriso e puxei o seu braço, colocando três notas de vinte em sua mão.

Ele esqueceu o que ia dizer, balbuciou algumas palavras, mas eu o interrompi:

— Fique com o troco, amigo.

Com a outra mão puxei Cassie para a saída. Ainda arrisquei um último olhar para o gerente, mas ele olhou ao redor e guardou as notas em seu bolso.

Flecha do Destino (PJO/HDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora