Capítulo 02: "Anyelle"

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 Quando Anyelle voltara para Pedra Dourada, depois de cinco anos estudando fora, cursando Farmácia numa Universidade Federal, ela imaginava que sua vida seria tediosa e completamente insossa. 

Pedra Dourada era pacata, era sem vida noturna, sem passeios a shoppings, sem cinema, sem livrarias. Era praticamente o fim do mundo.

Enganara-se completamente.

Assim que retornara, o irmão mais velho, Daniel, tratara logo de montar uma Farmácia muito bem estruturada para que ela administrasse. 

Ela tinha um emprego maravilhoso.

No fundo, Anyelle sequer precisava trabalhar. Ela era a terceira de quatro herdeiros de uma das famílias mais abonadas de Pedra Dourada, Os Fonseca.

Além da Farmácia, eles possuíam um Hotel e um Mercado, todos nomeados de "Fonseca". 

Anyelle era bonita, tinha cabelos que pairavam entre o loiro e o castanho, formando um  impecável loiro-mel, que era realçado pelo tom claro de seus olhos, além de lábios que possuíam uma coloração rosa inerente. 

Além de bela, a moça era simpática e sociável, rodeada de amigos e de pretendentes, para os quais, ela mal dava atenção. Sempre estava ocupada demais, sempre estava focada demais, sempre estava sem interesse.

Tudo desculpa.

A verdade mesmo era que Anyelle não conseguia se relacionar. Ela tinha um travamento emocional enorme com relação ao sexo oposto. O máximo que já chegou a ficar com uma pessoa fora três meses. 

Contudo, ela não podia dizer que sentia-se péssima ou que fazia algum tipo de diferença em sua vida não ter um relacionamento. Relacionamentos eram complicados.

Naquela manhã, quando chegara à Farmácia, ela já estava aberta. Seu auxiliar era deveras eficiente. 

Itamar era jovem, deveria ter 21 anos, era alto, magro, a pele era fortemente bronzeada por conta do sol de Pedra Dourada, os cabelos, formavam um topete que lembrava o usado por Elvis Presley, o que realçava ainda mais seus belos olhos verdes. 

Ele era um tanto tímido -  ao olhar de Anyelle -  curvava a coluna ligeiramente, levando a cabeça para frente, o que ela julgava ser pela timidez. Além disso, ela achava interessante a forma como ele sorria, isso, sem contar a forma como o rapaz andava. 

"Parece que carrega um pandeiro na bunda, Itamar!", brincara ela certa vez.

Eles tinham uma relação patroa-funcionário muito boa. Eram amigos, por assim dizer.

- Bom dia! - dissera Anyelle, ao tirar os óculos escuros.

- Bom dia! - ele dera um largo sorriso - Hoje teremos a entrega daquele lote de Loratadina. O fornecedor acabou de telefonar confirmando.

- Finalmente! - ela comemorou - Dona Maria Lena tá vindo aqui todo santo dia, coitada, atrás dessa bendita Loratadina. Quando o carregamento chegar, por favor, pede pra entregarem uma caixa lá na casa dela, tá?!

- Tudo bem! - ele digitava algo no computador - Você já viu a nova Enfermeira?

O assunto surgiu de repente, Anyelle não entendera muito bem.

- Não... - franzira o cenho - Por quê?

- Estão falando que ela é muito bonita! - ele sorria, daquele jeito que Anyelle achava engraçado - Na verdade, seu José, aquele da Quitanda ali da esquina, veio aqui e me disse, ele estava voltando do Hospital e disse que a viu lá.

- Seu José sempre reparando nas mulheres! - sorrira Anyelle - O que ele comprou? Algum medicamento forte?

- Não... Nada demais. 

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