Capítulo 10: "Um Tiro"

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Itamar estava cansado de não ser notado.

Tudo à sua volta parecia um breu sem fim e o rapaz de olhos verdes não aguentava mais aquilo. O que ele poderia fazer? Nada...

Ele sabia exatamente o que estava acontecendo, ou melhor, ele sabia exatamente o que não estava acontecendo. 

Como, então, mudar-se?! Será que aquilo era passível de ser mudado? Ele duvidava um pouco.

- Pensando na morte da bezerra, Itamar? - indagou Anyelle, voltando da parte de trás da farmácia, onde ficava um pequeno escritório, ela estava com o celular na mão.

- Não... - ele deu aquela risadinha no fim da fala - Eu só estava distraído mesmo.

- Ah tá... - ela parecia não ter acreditado muito naquilo - Minha mãe me ligou, disse que o Pedrinho não tinha voltado da escola na hora de sempre e estava toda desesperada.

- E pra onde ele foi?

- Telefonei agora pro Dani, o Pedrinho está com ele... - ela sorriu de alívio - Agora tá tudo bem, ele deve ter saído do colégio e ido direto pro escritório, o Pedrinho ama aquele lugar! Minha mãe se assustou e nos assustou por nada.

Como o sorriso de Anyelle era bonito! Era um dos sorrisos mais belos que Itamar já havia visto na vida, era quase como uma fonte de hipnose. 

- Dormiu de olho aberto de novo, Itamar?! - ela sorrira - Cara, você não tá bem aéreo hoje, hein?!

Ele sorrira.

Ah, se ela soubesse o motivo, certamente, não estaria sorrindo daquela forma.

                                                             * * * 

Pedro adorava sentar-se naquelas poltronas de couro que ficavam no escritório do irmão, era como se ele estivesse numa daquelas séries americanas de advogados que ele tanto amava.

Aquele dia estava sendo bastante atípico para o menino.

O tal homem que o estava levando para a cidade vizinha e que, depois, desistira da ideia, o havia deixado na porta do escritório central do Grupo Fonseca e, naquele momento, Daniel o estava olhando de forma estranha, como se tivesse vendo um fantasma.

- É importante que nossa mãe não saiba nada sobre esse tal homem tatuado, okay?! - pedira Daniel - Eu contei a ela que você veio do colégio direto pra cá, que veio devagar junto com uns amigos e que, por isso, demorou para chegar até aqui. Tudo bem você contar a mesma coisa?!

Pedro franzira o cenho.

- Por quê?

- É coisa de adulto, Pedrinho! - Daniel parecia sério, mas, ao mesmo tempo, não era um sério tipo um pai, era um sério tipo um amigo - Alguma vez na vida eu já desapontei você?

- Não...

- Então... Dê esse voto de confiança para mim, beleza?! É só dizer que você esteve aqui o tempo todo.

- Tá bem! Eu posso fazer isso - o menino queria parecer adulto também, falava num tom quase senil - E quem era aquele cara tatuado?

- Ele é um amigo meu... - Daniel mentira - Agora, meu jovem, apenas esqueça tudo que acontecera hoje. 

- Eu já me esqueci! Vai ser nosso segredo!

- Isso mesmo! Nosso segredo de homens.

Os dois sorriram. Pedro havia adorado ouvir aquele "homens" na fala do irmão. Ele até sentia-se mais adulto.

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