Capítulo 01: "Dafne".

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   O velocímetro do Fiat Mobi vermelho-sangue marcava 100 km/h, quando passara pela placa que dizia "Bem-Vindo a Pedra Dourada".

A mulher ao volante respirou fundo. Agora, era para valer!

Conforme o veículo ia adentrando à avenida da cidade, ela sentia-se fria, como se estivesse sendo enforcada por algum maníaco.

"Calma, Dafne, calma!", ela repetia para si mesma, mentalmente.

Deu o play no CD que estava dentro do aparelho de som do automóvel. Em instantes, Lana Del Rey e The Weeknd começaram a cantar "Lust For Life" para ela. Ela realmente amava aquele álbum.

Estava mais calma. Não era a primeira vez que ela chegava a Pedra Dourada. Ah, Pedra Dourada! A pacata cidade do interior da Bahia nunca havia despertado tamanho interesse em alguém.

Para ser completamente honesta, ela sabia que não era bem a cidade quem despertava interesse nela. Pedra Dourada, naquela narrativa, era somente mais um detalhe. E eram tantos os detalhes! Minunciosamente planejados, organizados, orquestrados e, em breve, minunciosamente postos em prática.

Lembrou-se rapidamente daquele sorriso. Aquele sorriso que a fizera cair em profunda tristeza.

Olhou de relance para seus próprios pulsos.

A lembrança do sorriso desaparecera.

Quando voltara a olhar para além do para-brisa do carro, a mulher teve que se apressar em frear o veículo.

De repente, uma garota atravessara na frente do Mobi vermelho-sangue, seguida por um garoto mais ou menos da mesma idade dela.

- Loucos! - berrou a mulher, ainda assustada.

Aos poucos, ela foi respirando fundo. Aquilo foi por pouco e ela não podia se dar ao luxo de chamar atenção naquela cidade daquela forma. Imagine só: atropelar alguém!

Olhou instintivamente na direção para onde os dois garotos haviam corrido. Havia acontecido um acidente lá. Uma garota, toda vestida de preto, que estava em uma bicicleta, fora atropelada por uma C-10, dirigida por um senhor de meia-idade.

- Que merda... - sussurrara a mulher.

Ela era Enfermeira! Ela precisava ajudar àquelas pessoas de alguma forma. Quando preparava-se para tirar o cinto de segurança, notara que o rapaz estava com o celular ao ouvido. Certamente, ele iria telefonar para o serviço de urgência.

- Ótimo! - ela disse, acelerando o veículo.

O álbum de Lana Del Rey continuava tocando no interior do automóvel.

                                                                                * * *

A mulher aparentava ter entre 30 e 35 anos de idade. Estava parada feito uma estátua de mármore à frente da casa. A mesma casa que a recém-chegada havia visto pela internet dias antes.

Descera do carro vermelho-sangue e seguira até a mulher.

- Olá, minha querida!

- Olá! Demorei? - indagara, retirando os óculos escuros.

- Não, imagine! - a mulher era bem simpática - Me chamo Martha!- estendeu a mão direita em cumprimento -  Eu vim para apresentar a casa melhor a você.

- Prazer! - retribuíra ao cumprimento - Dafne Monteiro!

- Lindo nome, Dafne! - sorrira Martha - Vamos entrar, aposto que vai gostar ainda mais da casa ao vivo do que gostou dela pela internet.

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