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A carta finalmente chegou. Não sei se quero abri-la, pois se o fizer, terei a certeza de que tudo foi real e que tudo acabou por conta disso. Eu dei entrada no divórcio, e sei que não deveria estar com medo, mas estou. Não é como se eu não o amasse mais e quisesse me livrar dele rapidamente, mas sim, porque é o certo a se fazer.
Apoio os cotovelos no mármore da mesa e repouso meu queixo em minhas mãos entrelaçadas. Observo o envelope branco destinado a mim, por minha advogada.

Merda! Estou com tanto medo.

Respiro fundo tomando coragem e estendo minha mão o pegando e rasgando a lateral. O abro devagar e leio. Leio duas vezes e pressiono os lábios com força, formando uma fina linha. Estamos divorciados. Não existimos, não existe mais comida italiana todas às noites de sexta, não existe mais sexo pela manhã, não existe mais nada que nos une, além de nossa filha, não existe mais nada.
Solto o ar que prendia em meus pulmões, bem devagar e me concentro para não chorar, de novo.
Não quero parecer fraca perto de Lizzy.

— Mãe! – ouço sua voz ao entrar pela porta com a mochila nas costas – você não vai acreditar.

Solto o envelope e olho para ela sorrindo o mais verdadeiramente que consigo.

— O que aconteceu? – digo.

Ela joga a mochila sobre o sofá e vem em minha direção com a boca aberta, mas não diz nada quando olha para o envelope que acabei de deixar. Seus olhos voltam para os meus e ela passa a língua nos lábios devagar, tomando coragem para perguntar.

— Está tudo acabado?

Confirmo com a cabeça.

— Foi o certo. Você ficará bem. – ela sorri fraco e caminha até mim me abraçando.

— Ficaremos bem. – beijo sua cabeça e solto seu corpo – o que você queria me falar?

— É que um garoto do terceiro ano me convidou para ir à festa que terá na casa dele.

— Não. Não e não.

— Mas mãe! Ele é o maior gato da escola, o capitão do time.

— Você acabou de descrever os motivos para eu não deixar.

— Ele é só três anos mais velho, só três.

— Lizzy, me responda uma coisa. Quando ele tinha três anos de idade, você estava onde? – arqueio a sobrancelha.

Ela revira os olhos e fixa seus olhos nos meus.

— Nascendo.

— Você acha certo, um bebê sair com um garotinho de três anos?

— Não, mas não sou um bebê.

— Você é o meu bebê.

— Mãe! Já tenho quinze anos.

— Meu bebê. – estico a mão e toco seu rosto – sem garotos mais velhos. Você pode dar uma festa aqui, mas não irá a dele.

— O que? Uma festa com você aqui? – ela indaga incrédula.

— Sou muito divertida!

— Meu Deus! Vou chamar só algumas amigas.

— Tudo bem. – sorrio. – você não deu meu beijo.

— Isso é vergonhoso.

— Você tem sorte de eu não te abraçar e te beijar na frente da sua escola inteira. Agora meu beijo.

Ela estende os lábios e toca minha bochecha, se afastando rapidamente.
Eu a seguro pela cintura e a aperto enquanto encho seu rosto de beijos, nos quais ela reclama. Lizzy se solta de mim e pega a mochila subindo as escadas.

Eu ainda te amoOnde histórias criam vida. Descubra agora