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Nos últimos meses minha vida virou de cabeça para baixo. Anteriormente minha única preocupação era Killian tentando reatar nosso relacionamento, mas mal eu sabia o que viria a seguir.
Duas tragédias em menos de um ano.
A primeira foi a perca da perna de Killian, e a segunda, ainda dói só de me lembrar.
É como se nos momentos de desespero, quando eu fecho meus olhos, volto naquele dia. Volto a sentir o cheiro da fumaça invadindo meus pulmões, volto a sentir o calor das chamas próximas a minha pele e ainda volto a sentir claramente, o peso do corpo de Lizzy em meus braços.
Essas lembranças se tornaram pesadelos. Pesadelos que tenho tanto de olhos abertos, quanto fechados. Nem os braços de Killian foram capazes de me acalmar durante as noites, e em algumas delas, eu só queria os braços quentes e confortáveis dos meus pais. Mas eles se foram pouco depois da terceira tragédia. Talvez tragédia não se encaixe no que aconteceu, mas sim, justiça.
Após eu ter voltado da cafeteira onde encontrei Mark, dirigi as presas para o apartamento que estávamos morando. De início eu estava tão assustada que me recusei a ir a delegacia prestar queixa, porém, com a insistência de meus pais e não de Killian, eu fui. Eu disse tudo que eu sabia e foi o suficiente para a polícia ir até seu apartamento a fim de interroga-lo, mas para a nossa surpresa, ele não estava lá. O desgraçado fugiu rumo ao Arizona, horas depois de perceber que eu não estava mais na cafeteira, entretanto não se saiu bem no calor do momento, em visto que perdeu a direção do volante e capotou pela pista até seu carro ser inundado pelas chamas. Ele teve o que mereceu.
Sua cúmplice, Sarah, desapareceu. Mamãe e papai ligaram muitas e muitas vezes para ela quando os deixei a par dos fatos, mas ela nunca atendia. Até agora, meses depois do que acontecera, ela não entrou em contato com ninguém, mas mamãe recebe a conta do seu cartão de crédito mensalmente.
Após todo esse alvoroço, eu voltei ao apartamento de Mark na tentativa de arranjar alguma prova sobre o que ele fez. Eu não levaria a polícia, eu só queria ter a total confirmação, mas eu não encontrei nada. Absolutamente nada, e Killian não quis me ajudar. Ele disse que não se envolveria em nada relacionado ao Mark, e quando eu perguntei o porquê, soube que fazia parte do acordo. O acordo que morrera com Mark. O acordo que Killian nunca irá me contar, por mais que diga que me ama.
Eu não sei se tomei a decisão certa, só segui meu coração. Ele não parecia mais o mesmo. Eu não conseguia mais o ver como o homem pelo qual eu me apaixonei. As mentiras, a omissão, os segredos, foram de mais para eu aguentar, pois sempre que eu olhava em seus olhos, eu simplesmente não conseguia ver o amor, eu só conseguia ver todos os anos que passamos ao lado um do outro sob uma manta escura.

Agora, sentada na varanda do novo apartamento que comprei há poucos dias, posso ver o alaranjado com breves pinceladas de rosa claro no céu. O pôr do sol nunca fora tão lindo.
A brisa leve e fresca que carrega poucos fios do meu cabelo desarrumado é como mãos me acariciando. São nesses momentos que mais penso em Lizzy.
Imagino-a ao meu lado sempre que um pôr do sol ou uma noite estrelada esteja melhor do que nos outros dias. Porque apesar de tudo, apesar de um dia ruim no trabalho ou alguma discussão com Killian, ela sempre foi a melhor e a mais bonita parte do meu dia. E se eu fechar meus olhos posso escutar o sussurro da sua voz doce em meu ouvido, dizendo que me ama e que ama o irmãozinho.
Diante desse pensamento, minha mão toca instintivamente a barriga de seis meses e meio que carrego. Ela cresce mais a cada dia e eu não me canso apreciar a sensação de ter algo dentro de mim para amar e proteger. Eu o amo tanto que meu coração transborda. Talvez seja por esse filho e não apenas por Lizzy, que eu estou conseguindo superar tudo o que aconteceu e seguir em frente sem precisar de uma sessão de terapia ou remédios.
Killian por outro lado, não pensou duas vezes antes de aceitar a indicação da terapeuta de papai.
Ele a encontra duas vezes por semana durante uma hora e meia. Pelo o que ele me disse, da última vez que veio visitar o filho, esta ajudando a superar. As coisas andam mais fáceis em sua vida depois de ter colocado a prótese que tanto precisava. Ele fechou a ONG de animais e reabriu um centro de apoio para pais que perderam seus filhos. Kill não ganha fins lucrativos, mas ganha a companhia de outras pessoas. Ele ganha em ajudar outros pais, que passaram pela mesma perda que ele, a superar a dor.

Eu ainda te amoOnde histórias criam vida. Descubra agora