Eu ainda te amo

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Meu natal não está sendo nada menos do que o esperado. Estou no meu sofá, com meus pés inchados sobre a mesa de centro, com uma pequena quantidade de vinho tinto na minha taça e um vasilhame com dois pedaços de lasanha requentada.
Eu sei que a ceia deve ser servida a meia noite, mas meu bebê não esperaria até lá, então talvez eu faça espaguete com batatas para ceia. De qualquer forma, não me importo se terá peru ou espaguete.

Deixo para lá o pensamento de querer sentir o sabor de peru recheado, ao ver a cena no filme que assisto, e mudo de canal. Esses filmes natalinos não servem para dar esperança, mas sim, para dar fome. Muita fome.
Corto um pedaço generoso de lasanha e levo a boca tentando imaginar um sabor melhor. Não que minha lasanha esteja ruim, mas não se compara a uma ceia digna de natal na qual eu sempre estive acostumada.
Lizzy adorava acordar bem cedo comigo e me ajudar a preparar o peru e o restante dos acompanhamentos.
Killian sempre ficava responsável pela sobremesa e nunca decepcinou, mas claro que teve muita ajuda na cozinha.

Viro o restante do vinho tinto na minha boca e coloco a taça sobre a mesinha, retirando meus pés.
Eu realmente preciso de uma massagem, mas terei que me contentar com o tapete felpudo.
A tela da TV está exigindo um peixinho laranja com um capacete de astronauta cobrindo sua cabeça. Fico imaginando da onde vêm este tipo de criatividade para criar uma animação.
Dou de ombros e mudo novamente de canal colocando na Disney Channel. Está passando outro filme natalino, mas pelo menos não tem comida envolvida. A música calma e harmoniosa do filme faz com que meus músculos relaxem. Começo a piscar devagar. Cada vez mais devagar...

— EMMA?

Levanto-me com força do sofá quase tropeçando no tapete, ao escutar meu nome ser chamado. Esfrego as mãos no rosto e xingo mentalmente quem quer que seja que me acordou.
Avalio o relógio antes de atender a porta. Dormi por duas horas, ótimo.
Ajeito alguns fios do meu cabelo e abro a porta me deparando com Killian segurando duas sacolas.
Ele veste um suéter vermelho de colarinho verde, estampado com várias renas pretas e uma calça jeans simples. Seu cabelo está lambido e ridículo, mas seu sorriso compensa.

— Oi! Vim passar meu natal com você. – ele passa por mim empurrando levemente meu ombro.

— Hey! Não deixei você entrar! – fecho a porta com força e acendo a luz da sala que estava apagada. Olho para o reflexo da porta de correr de vidro da varanda, prestanto atenção no meu estado.

Eu achei que seria eu e somente eu, por isso coloquei um shortinho velho de dormir e uma regata preta mostrando metade da enorme barriga que carrego. Tirando o fato dos meus seios estarem quase saltando da regata.
Abraço meus próprios braços e caminho até ele que está tirando os itens da sacola e colocando sobre a bancada.

— O que você está fazendo? – indago. – você não ia passar o natal com a família da Emy?

— E você não iria passar com seus pais?

Reviro os olhos.

— Eu não estava me sentindo bem. – minto.

— Judy disse que você recusou todas as ligações que ela fez para você.

Isso é verdade.

— Eu nem estive perto do meu celular e o telefone fixo está quebrado. – minto novamente.

— Claro. – ele diz com ironia e guarda as sacolas de plástico dentro do armário de cima.

— Então você vai ficar aqui?

— Sim. Eu mudei de idéia de última hora e fui para a casa dos seus pais, mas como você não estava lá, eu vim para cá.

— Eu não quero passar o natal com você.