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Os dias passam devagar.
Mamãe acorda às cinco da manhã, prepara o café e espera que acordemos.
Papai acorda às cinco e meia, lê o jornal, toma duas xícaras de café sem açúcar e veste sua roupa de ginástica.
Ele corre por meia hora todos os dias.
Killian acorda depois do meio dia, desce, toma uma xícara de café e passa o resto do dia na frente da televisão.
Eu não acordo, pois não durmo.
Eu observo todos. Todos os dias e tomo um copo d'água, ás vezes.

Não estou me adaptando a está rotina. Todos não fazem nada o dia todo.
Papai tenta conversar com Killian.
Mamãe limpa a casa e tenta me alimentar, e eu nego a comida que ela me dá. Não sinto a mínima fome.
Eu já pensei em voltar para o trabalho, talvez ajude há passar o tempo, mas eu não consigo. Eu não consigo, pois em cima da minha mesa, em uma porta retrato azul, tem sua foto. Ela estava com treze anos. Seus cabelos estavam molhados e suas mãos para cima. Eu me lembro daquele dia, foi um dia perfeito.
Se eu fechar os olhos eu consigo sentir o cheiro de terra molhada. Consigo sentir o vento bater no meu rosto.
Consigo ouvir sua voz dizendo:
Mamãe estou ensopada!
Elisabeth tinha uma voz doce e calma, mas quando ela gritava ou estava irritada, parecia uma gralha. Uma gralha terrível!

— Por que está sorrindo?

Abro os olhos e me deparo com Killian. Ele está com uma mão apoiada na mesa e a outra na muleta. Há alguns dias ele tirou o gesso e agora seu braço está novinho em folha.

— Eu estava me lembrando do dia que brincamos com Lizzy de mangueira. Lembra? Faz muito tempo.

Ele olha para cima pensativo e em seguida assente. Seus lábios que estavam em uma linha reta, agora estão curvados.

— Eu me lembro. Foi um ótimo dia.

— Fizemos um piquenique e você resolveu "regar as flores"

— Lizzy deu um grito tão alto quando mirei a mangueira em suas costas.

— Ela quis te matar sabia? Eu havia feito escova em seu cabelo.

Killian dá uma risadinha e puxa a cadeira que estava ao meu lado se acomodando.
A muleta fica sobre a mesa junto com seus cotovelos.

— O cabelo dela estava muito bonito mesmo...

Sorrio de lado esquecendo por um segundo que ela não está mais entre nós. Que eu nunca mais vou poder escovar seu cabelo.
Suspiro pesadamente e encosto minha cabeça no ombro de Killian, que passa seu braço em volta das minhas costas.
Sinto-me protegida.

— Eu acho que amanhã vou voltar para a ONG.

— Vai? Você acha que consegue?

— Acho que sim. Já fui ao centro de muleta e tirando os olhares, me sai bem.

— Ok.

— E o seu trabalho?

— Eu não sei. Não me sinto pronta.

— E como a revista está se virando sem você? – ele finalmente decide perguntar

— Contrataram um substituto, mas acho que ele irá virar permanente.

Killian se afasta um pouquinho e ergue meu queixo.

— O que? Você ama aquilo!

— Eu não sei se ainda amo.

— Amor, só estamos passando por um momento difícil. O trabalho pode ajudar.

— Eu não quero Killian. Eu não quero fazer nada.

— Emma... – ele pressiona os lábios e os abre, mas os fecha novamente. Acho que ele iria me repreender, mas desistiu.

Para não ficar um silencio constrangedor trato logo de dar inicio a um assunto que esta me assombrando desde ontem.

Eu ainda te amoOnde histórias criam vida. Descubra agora