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Hoje decidi levantar cedo da cama e caminhar um pouco, afinal é véspera de natal! 
Daqui alguns dias darei adeus ao ano de dois mil e dezessete e receberei dois mil e dezoito com mais esperança. Preciso ter esperança de que o ano que vira será mais tranquilo, sem tragédias, sem brigas e sem segredos. 
Ainda não sei onde passarei meu natal. Mamãe insiste em fazer uma ceia farta e convidar alguns parentes distantes, talvez até amigos, mas eu não estou animada com essa ideia, afinal o melhor presente de natal que eu poderia receber não está mais aqui. Acho que irei me trancar no meu apartamento e irei comer lasanha requentada...

Killian provavelmente ira passar o natal com meus pais ou com alguns amigos.
Não me sinto bem diante da ideia de não estar ao seu lado em eventos como este, pois são nesses momentos que ele mais sente a ausência de seus pais, e agora ira sentir a de Lizzy, assim como eu. Acho que eu posso deixar de lado essa magoa que sinto por ele e passar o natal ao seu lado, junto de minha família. Com certeza vou odiar ter que cumprimentar centenas de parentes que vi umas três vezes na minha vida e aguentar crianças correndo e gritando para la e para cá ou receber o olhar de pena e os pêsames de todos, o tempo todo, mas farei por Killian. Será como reabrir uma ferida quieta, não cicatrizada.
Ela jamais ira se cicatrizar, mas mesmo sabendo que poderei passar por tudo isso, eu vou ir. Ele esta mais sozinho do eu. Sempre esteve.

Continuo minha caminhada tranquila pelo Golden Gate Park  e paro somente para me sentar — com certa dificuldade — no gramado bem cuidado. De longe vejo as flores de todas as cores. Tem rosa, vermelho, laranja, amarelo, roxo e branca. Não estão plantadas em desordem, mas sim em formatos. Retangular, oval e quadrangular. O cheiro não chega aqui onde estou, mas se eu fechar os olhos, posso senti-lo. Não se parece com aqueles perfumes caros florais, mas sim com cheiro de campo. Flores do campo. Lizzy adorava esse cheiro. Ela adorava as cores das flores. Ela adorava se sentar aqui e observar seus formatos. Ela adorava fechar os olhos e imaginar seu cheiro. Ela adorava viver. 

Eu tento ao máximo parar de querer estar perto dela. De querer imaginar seu rosto, mas sempre que saio do meu apartamento, onde nada me lembra ela, alem do céu, eu acabo seguindo pelo caminho da dor. Eu acabo seguindo para os lugares onde sua essência ainda está presente, e o pior é que eu só percebo quando meus olhos se enchem d'água e o meu coração transborda de dor. É insuportável, totalmente insuportável. Conviver com isso todos os dias é como tirar o ar aos poucos do meu pulmão e me obrigar a respirar sem ele. 

— Posso me sentar?

Abro os olhos assim que a voz de Killian me traz de volta a realidade.
Como ele sabia que eu estaria aqui?
Ou foi por acaso?

— O parque é público. – digo assim que seco minhas lágrimas.

Ele solta uma risada irônica e se senta ao meu lado não tirando seus olhos de mim. Viro minha cabeça em sua direção e os encontro, apagados. Eles não brilham mais. Não brilham desde o incêndio.
Killian carrega no rosto uma enorme barba. Não tão grande quanto a do papai noel, mas ainda assim é grande. Bem desenhada, mas grande.
Se não fosse pelo cabelo bem penteado, as roupas e o cheiro agradável de seu perfume, ele pareceria um mendigo.

— O que aconteceu com seu rosto? – franzo o cenho.

— Gostou? Emy disse que aparento ter uns cinquenta anos.

— Por que você deixou crescer? Da última vez que o vi estava tão curta.

— Foi a uns três ou quatro meses?

— Cinco e meio.

— Cinco e meio... – ele cerra os olhos e passa a língua nos lábios chamando brevemente minha atenção – Bom, eu decidi mudar um pouco.

Eu ainda te amoOnde histórias criam vida. Descubra agora