Ouvido.

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Pra compensar a ausência no encontro de sexta-feira, decido contar ao Chula sobre Taehyung. Não pretendo mencionar o nome dele, mas preciso contar a alguém que não seja Namjoon ou Seokjin, que só me perguntam se já ficamos ou me lembram da surra que vou levar de Jung Hoseok se um dia eu fizer alguma coisa. Mas, antes, o Chula vai perguntar se tentei me machucar. Cumprimos essa rotina todas as semanas, e é mais ou menos assim:

Chula: Você tentou se machucar desde a última vez em que nos vimos?

Eu: Não, senhor.

Chula: Você pensou em se machucar?

Eu: Não, senhor.

Aprendi por experiência própria que a melhor coisa a fazer é não falar o que realmente pensamos. Se não falamos nada, as pessoas concluem que não estamos pensando em nada além do que deixamos que elas vejam.

Chula: Você está mentindo pra mim?

Eu: Eu mentiria pra você, uma figura de autoridade?

Como ainda não desenvolveu senso de humor, ele me encara e diz:

— Espero que não.

Então decide quebrar a rotina.

— Sei sobre o artigo na Boatos B&T

Fico sem palavras por alguns segundos. Finalmente, digo:

— Você nem sempre deve acreditar no que lê, senhor.

Minha fala sai sarcástica. Decido deixar isso de lado e tentar mais uma vez. Talvez seja porque ele me deixou sem graça. Ou porque está preocupado e quer meu bem e é um dos poucos adultos na minha vida que me dão atenção.

— É sério. — Minha voz está embargada, e fica claro pra nós dois que aquele artigo idiota me incomoda mais do que deixo transparecer.

Depois desse diálogo, passo o resto do tempo provando pra ele que tenho vários motivos pra viver. Hoje foi o primeiro dia que falei sobre Taehyung.

— Então, conheci um garoto. Vamos chamá-lo de fulano. Nós acabamos ficando meio amigos, e isso está me fazendo muito, muito feliz. Tipo, estupidamente feliz. Tipo, tão feliz que meus amigos não me aguentam mais.

Ele me analisa como se tentasse entender meu ponto de vista. Continuo falando sobre fulano e como estamos nos dando bem e como tudo o que eu quero é passar meus dias feliz por estar tão feliz, o que é verdade, até que finalmente ele diz:

— Tudo bem. Já entendi. Esse “fulano” é o garoto do jornal? — Ele faz aspas com os dedos quando diz o nome . — O que salvou você de pular daquele parapeito?

— Possivelmente. — Me pergunto se ele acreditaria se eu dissesse que foi o contrário.

— Só tenha cuidado.

Não, não, não, Chula. Você, justo você, deveria saber que não se deve dizer algo desse tipo quando alguém está tão feliz. “Só tenha cuidado” significa que a coisa toda vai ter um fim, talvez em uma hora, talvez em três anos, mas um fim. Por acaso ele ia morrer se dissesse algo como Estou feliz por você, Jungkook. Parabéns por encontrar alguém que faz você se sentir tão bem?

— Olha só, você podia só dizer parabéns e parar por aí.

— Parabéns.

Mas é tarde demais. Ele não pode retirar o que disse e agora não tiro o “Só tenha cuidado” da cabeça. Tento convencer meu cérebro de que o Chula quis dizer “Só tenha cuidado quando fizerem sexo. Use camisinha”, mas, em vez disso, como cérebros têm ideias próprias, começo a pensar em todas as maneiras que Kim Taehyung  pode partir meu coração.

The froster brightness  [kth +jjk]Onde histórias criam vida. Descubra agora