Receio.

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"corro pros meus problemas não me alcançarem"

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"corro pros meus problemas não me alcançarem"

Dia 5 de abril, domingo de Páscoa. Meus pais e eu vamos até a ponte da rua A e descemos para o leito seco do rio pra deixar flores no lugar onde Baekhyun morreu. Uma placa de carro está fincada no chão, uma placa que de repente me parece familiar, e em volta dela há um pequeno jardim onde alguém plantou flores. Jeon.

Tenho calafrios, não só por causa do ar frio. Um ano se passou, e apesar de meus pais não falarem muito enquanto estamos aqui, sobrevivemos. A caminho de casa, me pergunto quando Jeon esteve lá — quando achou a placa pela primeira vez, quando voltou. Espero que meus pais falem sobre o jardim ou conversem sobre Baekhyun, que digam o nome dele hoje. Como não acontece, falo:

— Foi ideia minha ver o Boy Parade no recesso de primavera. Baekhyun não gostava tanto assim deles, mas disse: “Se você quer ver o Boy Parade, então vamos vê-los, mas pra valer. Vamos segui-los por todo o Meio-Oeste”. Ele era bom nisso, levar as coisas um passo adiante e fazer com que tomassem forma e ficassem mais emocionantes. — Como outra pessoa que eu conheço.

Começo a cantar minha música preferida do Boy Parade, a que mais me lembra dele. Minha mãe olha pro meu pai, que está com os olhos fixos na estrada, e começa a cantar comigo.

Em casa, sento à escrivaninha pensando sobre a pergunta da minha mãe: Por que quero começar outra revista?

Analiso o quadro na parede. Minhas anotações ultrapassam o quadro e atravessam a parede até chegar ao closet. Abro o caderno de andanças e viro as páginas. Na primeira vazia, escrevo: Semente — substantivo: a origem de algo; uma coisa que pode servir de base para crescimento ou desenvolvimento.

Leio de novo e acrescento: A revista Semente é para todos… Risco.

Tento mais uma vez: O objetivo da revista Semente é entreter, informar e mantê-lo seguro…Risco também.

Penso em Jeon e Joohyun, então olho pra porta do closet, onde ainda dá pra ver os buracos das tachinhas que prendiam o calendário. Penso no “X” preto que riscava a cada dia porque tudo o que eu queria era que ficassem pra trás.

Viro a página e escrevo: Revista Semente. Você começa aqui. Então arranco e colo na parede.

Não tenho notícias de Jeon desde março. Não estou mais preocupado. Estou bravo. Bravo com ele por ir embora sem falar nada, bravo comigo mesmo por ser tão abandonável e por não ter sido o suficiente pra que ele quisesse ficar. Faço as coisas normais pós-término de namoro — tomo sorvete direto do pote, ouço músicas do tipo “estou melhor sem ele”, escolho uma foto nova pro perfil do Facebook. Minha franja finalmente está crescendo e volto a parecer o Taehyung de antes, mesmo não me sentindo mais o mesmo. No dia 8 de abril, junto as poucas coisas que tenho dele, coloco em uma caixa e guardo no fundo do closet. Chega de Taetae hyung. Volto a ser Kim Taehyung.

Onde quer que Jeon esteja, está com nosso mapa. No dia 10 de abril, compro outro pra terminar o projeto, o que preciso fazer com ele ou sozinho. Agora as únicas coisas que tenho são memórias dos lugares. Nada pra mostrar que estive lá, a não ser algumas fotos e nosso caderno. Não sei como juntar tudo o que vimos e fizemos em uma coletânea compreensível, que faça sentido pra outra pessoa. O que quer que tenhamos feito ou sido juntos não faz sentido nem pra mim.

No dia 11 de abril, pego emprestado o carro da minha mãe, e ela não pergunta aonde estou indo, mas ao entregar as chaves diz:

— Ligue ou mande mensagem quando chegar e quando estiver voltando.

Vou pra Kwangju, onde faço uma tentativa desanimada de visitar o Museu da Prisão Rotativa, mas me sinto um turista. Ligo pra minha mãe pra dar notícias e depois entro no carro. É um sábado quente. O sol está brilhando. Parece primavera e lembro que, tecnicamente, já é. Enquanto dirijo, procuro uma minivan Saturn e, toda vez que vejo uma, meu coração dá um pulo enorme até a garganta, apesar de eu dizer pra mim mesmo: Acabou. Esqueci Jeon. Vou seguir em frente. Lembro o que ele disse sobre amar dirigir, a propulsão, como se pudesse ir pra qualquer lugar. Imagino a cara que ele faria se me visse ao volante agora. “Taetae hyung”, ele diria, “sempre soube que você conseguiria.”

Quando Hoseok e Jisoo terminam, ele me chama pra sair. Aceito, mas só como amigos. No dia 17 de abril, jantamos no Cabine, um dos restaurantes mais chiques de Busan. Brinco com a comida e faço de tudo pra me concentrar em Hoseok. Conversamos sobre nossos planos para a faculdade e sobre a sensação de fazer dezoito anos (o aniversário em fevereiro, o meu, em dezembro), e embora não seja a conversa mais emocionante que já tive, é um encontro bom e comum, com um garoto bom e comum e valorizo isso agora. Penso em como rotulei Hoseok exatamente como todo mundo rotula Jeon. De repente, gosto da solidez e da sensação de constância que ele traz, o fato de ele sempre ser e fazer exatamente o que a gente espera que ele seja e faça. Tirando a parte do roubo, claro.

Quando ele me acompanha até a porta de casa, deixo que me beije, e quando me liga na manhã seguinte, atendo.

Sábado à tarde, Joohyun aparece em casa e pergunta se quero fazer alguma coisa. Jogamos tênis na rua, como fazíamos quando me mudei pra cá, depois tomamos sorvete. À noite, vamos ao Quarry, só eu e ela, e mando mensagem pro Seokjin e pra Jennie e pra Nayeon e pras três Kims, e eles nos encontram. Uma hora depois, Kim Jongdae e algumas outras garotas da Semente se juntam a nós. Dançamos até a hora de ir embora.

Sexta, 24 de abril, Seokjin e eu vamos ao cinema, e quando ele me convida pra dormir na casa dele, aceito. Ele quer conversar sobre Jeon, mas digo que estou tentando esquecê-lo. Ele também não tem notícias dele, então respeita, mas não sem antes dizer:

— Só pra você saber, não é por sua causa. Qualquer que seja o motivo que o levou a ir embora deve ter sido um bom motivo.

Ficamos acordados até as quatro da manhã trabalhando na Semente, eu no meu laptop e Seokjin deitado no chão, com as pernas pra cima apoiadas na parede. Ele diz:

— Podemos guiar nossos leitores até a vida adulta como os xerpas no Everest. Podemos falar a verdade sobre sexo, a verdade sobre a vida na faculdade, a verdade sobre o amor. — Ele suspira. — Ou pelo menos a verdade sobre o que fazer quando os garotos são completos idiotas.

— E a gente sabe o que fazer quando isso acontece?

— Acho que não.

Tenho quinze e-mails de pessoas do colégio que querem contribuir, porque Kim Taehyung, heroí da torre do sino e criador do TaeBaek.com (o blog preferido de Kim Jongdae), começou outra revista. Leio em voz alta, e Seokjin diz:

— Então isso é que é ser popular.

A esta altura, ele é meu amigo mais próximo.

The froster brightness  [kth +jjk]Onde histórias criam vida. Descubra agora