Outra azul.

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Jungkook.

Kim Dongsun é um avô educado, de fala mansa, com um boné branco de beisebol e bigode. Ele e a esposa vivem numa fazenda enorme no interior de Jeju. Graças a um site chamado Coréia Incomum, consegui o telefone dele. Liguei com antecedência, como recomendava no site, e Dongsun está no jardim esperando por nós. Ele acena e se aproxima, aperta nossas mãos e pede desculpas por Chulmoo não estar, pois foi ao mercado. Nos leva até a montanha-russa que construiu no quintal — na verdade, são duas: a Flash Azul e a Outra Azul. Cada uma tem lugar pra uma pessoa, o que é a única coisa ruim; fora isso tudo é incrível. Dongsun diz:

— Não estudei engenharia, mas sou viciado em adrenalina. Corridas de demolição, dragsters, velocidade… quando desisti disso tudo, quis arranjar algo pra substituir, algo que desse a mesma emoção. Adoro a sensação da morte iminente, mas leve. Então construí algo que me proporcionasse esses sentimentos sempre que quisesse.

Enquanto ele fala, com as mãos no quadril, olhando para a Flash Azul, penso sobre morte iminente, mas leve. É uma fala que gosto e entendo. Guardo na memória pra usar depois, quem sabe em uma música.

— Você deve ser o cara mais brilhante que já conheci — digo. Gosto da ideia de algo que proporciona todos esses sentimentos sempre que queremos. Quero uma coisa assim também, então olho pro Taehyung e penso: Aí está.

Kim Dongsun construiu a montanha-russa ao lado de um galpão. Ele diz que ela tem cinquenta e cinco metros de comprimento e chega a seis metros de altura. A velocidade não passa de quarenta quilômetros por hora e a volta dura só dez segundos, mas tem um looping no meio.

Olhando, a Flash é só sucata de metal retorcido pintado de azul-claro, com um assento de carro dos anos 70 e um cinto de tecido gasto, mas algo nela faz com que minhas mãos cocem e mal posso esperar pra dar uma volta.

Digo a Taehyung que ele pode ir primeiro.

— Não, tudo bem. Vai você. — Ele dá um passo pra trás como se a montanha-russa fosse avançar e engoli-lo, e começo a me perguntar se isso tudo foi uma má ideia.

Antes que eu diga qualquer coisa, Dongsun me prende no assento e me empurra pela lateral do galpão até eu ouvir um clique, então o carrinho começa a subir, subir, subir. Quando chego ao topo, ouço:

— Talvez seja melhor você se segurar, filho.

Obedeço ao passar, por um segundo, por cima do telhado do galpão, as terras da fazenda espalhadas à volta, e então disparo, desço e entro no looping, gritando até ficar rouco. Rápido demais, a volta acaba, e quero ir de novo, porque essa é a sensação que a vida deveria causar o tempo todo, não só por dez segundos.

Vou cinco vezes porque Taehyung ainda não está pronto, e sempre que chego ao fim ele dá um tchauzinho e diz:

— Pode ir mais uma vez.

Na quinta vez em que o carrinho para, desço, as pernas tremendo, e de repente Taehyung está no assento e Kim Dongsun está apertando seu cinto, então ele sobe, até o topo, onde para. Ele vira pra olhar na minha direção, mas de repente dispara e mergulha e gira e grita até parecer que sua cabeça vai explodir.

Quando termina, não sei dizer se ele vai vomitar ou sair e me dar um tapa. Em vez disso, grita:

— De novo!

E dispara mais uma vez num borrão de metal azul e cabelos e pernas e braços compridos.

Então trocamos de lugar e dou três voltas seguidas, até o mundo parecer de ponta-cabeça, e sinto o sangue pulsando com força nas veias. Enquanto solta o cinto, Kim Dongsun ri.

The froster brightness  [kth +jjk]Onde histórias criam vida. Descubra agora